Igor Gielow: Folha de São Paulo
A crise inaugural do governo interino de Michel Temer (PMDB) era cantada
desde a montagem expressa de seu ministério: praticamente não havia
interlocutor do hoje presidente que não citasse o risco de ter Romero
Jucá (PMDB-RR) em posição de destaque no gabinete.
Investigado pela Lava Jato, sabe-se agora o que o poderoso ministro do
Planejamento pensa a respeito da operação. Suas negativas sobre o
sentido da conversa com Sérgio Machado são protocolares, e politicamente
será muito custoso manter Jucá no governo.
É péssima notícia para Temer. Reconhecido por sua grande habilidade e
conhecimento no trato de questões orçamentarias no Congresso, Jucá é a
ponta de lança política da área econômica do peemedebista –de resto,
montada em torno da figura de Henrique Meirelles. Ele está no centro da
operação de esquadrinhamento da ruína deixada pela petista nas contas do
governo.
Os diálogos com Machado, revelados pela Folha nesta
segunda (23), são estarrecedores, como de resto são praticamente todas
as conversas entre políticos sem a presença ostensiva de um gravador.
Os tucanos ficaram especialmente irritados com as citações ao partido,
mas são parte integral da aliança que sustenta Temer. Se não quiserem
mais desgaste público, já que a Lava Jato hoje incorpora simbolicamente
todo o combate à corrupção no país, terão de pedir a cabeça de Jucá.
O ministro pode até resistir na cadeira, justamente pelo peso que tem
neste momento, mas com isso garantirá a desconfiança permanente sobre as
intenções do PMDB em relação à Lava Jato. Além disso, Jucá poderá
contar com a boa vontade de seus pares, que no fundo e em privado
certamente concordam com suas opiniões. O que não poupará Temer, que já
tem de dar declarações de apoio às investigações dia sim, dia não, de
mais essa dor de cabeça.
extraídaderota2014blogspot
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