por Aécio Neves Folha de São Paulo
A sensação geral dos brasileiros é a de que 2015 teima em não terminar.
Os problemas continuam os mesmos e vão se agravando todos os dias. Os
desafios também, sempre maiores do que eram, na medida em que vão se
acumulando e emperrando as raras portas de saída da crise.
A verdade é que este é um janeiro como poucas vezes já vimos. Depois de
as festas tradicionais de fim de ano sofrerem um necessário ajuste e as
viagens de férias minguarem a olhos vistos, quase 60 milhões de
brasileiros estão no vermelho, atingidos pela inadimplência, pelo
desemprego, pela inflação de dois dígitos e pelo peso crescente de
impostos.
Além de preços que sobem sem parar, as tarifas públicas, que passaram
anos manipuladas pelo governo com fins eleitorais, continuam a alta
iniciada logo após as urnas da última eleição serem fechadas.
Energia, combustíveis -pagamos caro pela gasolina e pelo diesel no mesmo
momento em que o preço do petróleo cai avassaladoramente no mundo todo-
e transporte público movem o dominó da carestia, que ganha escala.
Os juros, os mais altos do mundo, devem subir de novo nesta semana.
Também estão mais elevadas as taxas para o financiamento imobiliário,
mais caro e escasso o crédito. Enfim, tudo ficou mais difícil.
Some-se a essas dificuldades a realidade expressa na execução
orçamentária do governo no ano passado, que reflete a ausência de
investimentos em áreas essenciais, para termos uma dimensão mais
completa dos desafios.
Seguramente o mais grave e mais preocupante é o aumento do desemprego.
Em pouco mais de um ano, o exército de brasileiros sem trabalho ganhou
mais 2 milhões de pessoas. É certo que, infelizmente, o que já está
bastante ruim ainda vai piorar.
É difícil encontrar esperança num cenário em que a economia pode ter
despencado 4% no ano passado e deve cair mais 3% neste ano. São números
que adiam o futuro de milhões de brasileiros.
Não foi apenas o ano novo que nasceu velhíssimo. As mesmas contradições e
incoerências que nos trouxeram até aqui parecem continuar a orientar as
ações do governo.
O Brasil precisa, mais do que nunca, de responsabilidade, contenção de
desperdícios, transparência, segurança jurídica, foco em prioridades e,
acima de tudo, clareza em relação às escolhas feitas e ao rumo definido.
É essencial um esforço efetivo para recuperar a confiança perdida.
extraídaderota2014blogspot
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