editorial de O Globo
A
atitude inusitada de Tombini chamou a atenção para o risco da renovação
da aposta no ‘novo marco’, quando só um projeto crível de ajuste
resgatará a economia
A base do iceberg cuja ponta foi a autoimolação do Banco Central de
Alexandre Tombini, na sua submissão ao Planalto e ao PT, ainda está para
ser dimensionada, mas parece grande.
A nota do presidente do BC, emitida no dia de abertura da reunião do
Copom, terça-feira, para destacar o pessimismo do FMI nas projeções
sobre a economia brasileira, foi decodificada como desculpa para o
conselho atender à determinação de manter os juros em 14,25%. Assim foi.
A já abalada crença em alguma autonomia do BC sob Dilma foi trincada de
vez, mesmo que houvesse argumentos técnicos sérios a favor da decisão do
Copom de não alterar a Selic.
O fato passou a alimentar o temor sobre algo de extrema gravidade:
diante da deterioração ainda maior das expectativas, o governo, com
Nelson Barbosa na Fazenda, poderá relançar a essência do fracassado
“novo marco macroeconômico”, de autoria dele: corte de juros e mais
crédito subsidiado. Será suicídio, mas ideologia é cega. Igual à
religião vivenciada de forma sectária.
Nestes cinco anos de Dilma, há muitas evidências de que o Planalto,
apesar da grave crise, não se convence que só com um projeto crível de
ajuste nas contas dará segurança à volta dos investimentos privados,
para fazer funcionar as engrenagens do crescimento, aquecer o consumo e
iniciar um círculo virtuoso.
Mas o Planalto dá indicações de que fará tudo para não cortar despesas,
porque isso vai contra dogmas petistas e “desenvolvimentistas”. O
ministro Nelson Barbosa e Dilma falam em reforma da Previdência. De
fato, é importante, se estabelecer a idade mínima para a aposentadoria.
Porém, é preciso mais, e de efeito em prazos mais curtos.
Hoje, antes de se completar o primeiro mês do ano, já se sabe que a meta
de 0,5% do PIB de superávit primário é inalcançável. Pois, entre outras
razões, o fato de grande parte das despesas obrigatórias da União ser
indexada ao salário mínimo, enquanto caem as receitas, impõe déficits
permanentes. Apenas a correção dos benefícios previdenciários pelo
salário mínimo acrescentou mais R$ 6,2 bilhões às despesas previstas no
Orçamento (já comprometeu, então, 20% do superávit). O próprio Orçamento
passou a ser uma peça de fantasia, porque se baseia numa queda do PIB
de 1,9%, quando analistas, incluindo o FMI, projetam uma recessão de 3%.
A leniência do Planalto está exposta na incapacidade de sequer executar o
prometido corte de cargos comissionados e o encolhimento da
desnecessária rede de ministérios e secretarias, criada apenas para
abrigar apaniguados.
Para compensar, o Planalto aumenta impostos por medidas provisórias e
quer recriar a CPMF. Ora, a sociedade não aguenta mais arcar com um
Estado que gasta 40% do PIB, e sem dar em troca serviços públicos
decentes.
O comportamento inadequado de Tombini ampliou a desconfiança sobre toda a política econômica.
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