editorial da Folha de São Paulo
Quase 24 meses de investigação, mais de 300 testemunhas ouvidas, nenhum
adepto da tática "black bloc" indiciado. Com o saldo do principal
inquérito para apurar o vandalismo nas manifestações de rua iniciadas em
2013, a Polícia Civil de São Paulo deve ter quebrado algum recorde de
ineficiência.
O fiasco inquisitivo se consumou em setembro, mas só veio a público
agora. Não se obteve o suficiente para responsabilizar as cerca de 50
pessoas suspeitas de se organizarem para praticar arruaça e depredação,
durante ou logo após protestos contra a alta de tarifas de transporte
urbano.
Segundo a Secretaria da Segurança Pública, há não mais que sete
processos, resultantes de outras iniciativas, contra acusados de
envolvimento nas ações.
Como o Movimento Passe Livre (MPL) voltou às ruas, com as previsíveis
escaramuças entre "black blocs" e polícia, eis aí uma péssima notícia.
Confirma-se a impunidade dos vândalos e a impotência do poder público
diante de ativistas movidos, muitas vezes, por um mero impulso infantil
de provocação.
Quem duvida que assista ao vídeo dos jovens raivosos do MPL a dar tapas
nos carros de autoridades quando o prefeito Fernando Haddad (PT) e o
governador Geraldo Alckmin (PSDB) saíam de missa de comemoração dos 462
anos da cidade de São Paulo.
A Polícia Militar não pode deixar de conter tais excessos, em especial
quando está em risco a integridade física de pessoas e o patrimônio
público e privado. Mas não tem carta branca para bater a torto e a
direito, em desatinos de violência que também atingem quem nada tem a
ver com o vandalismo.
Reconheça-se que não é trivial controlar arruaceiros no transcurso do
protesto violento, assim como não é fácil individualizar a culpa dos
ilícitos cometidos à vista de todos nem obter as provas para instruir um
processo que redunde na sua necessária condenação.
Mas as polícias paulistas ainda não demonstram competência técnica para
atuar com eficácia tanto na repressão quanto na investigação. Numa
ponta, só sabem recorrer a cacetadas, bombas e balas de borracha; na
outra, limitam-se a produzir montanhas de papel.
O que não se vê, em ambos os casos, é inteligência, em todos os sentidos
da palavra. Não basta fotografar mascarados –é preciso monitorar sua
atividade antes, durante e após os atos de rua, para antecipar seus
movimentos e comprovar sua atividade criminosa.
No mais, soam risíveis as acusações de que o poder público estaria
criminalizando os movimentos sociais. São os "black blocs" que
criminalizam os protestos, sob a vista grossa do MPL.
EXTRAÍDADEROTA2014BLOGSPOT
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