por Mary Zaidan Com Blog do Noblat - O Globo
Um taxativo não ao impeachment seguido de um sim aguerrido ao processo
que corre no TSE para a cassação da presidente Dilma Rousseff e seu
vice, Michel Temer. Essa é a posição oficial da Rede, o partido de
Marina Silva, que, entre outras modas, apelidou de “elo nacional” a
reunião de sua executiva realizada neste último fim de semana, em
Brasília. Com a postura, Marina e sua Rede agridem a Constituição, os
órgãos de investigação do país e a Justiça.
A rejeição da Rede ao impeachment passa longe da discordância quanto ao
mérito do processo que aponta crime de reponsabilidade fiscal na conduta
da presidente. Nem toca nisso. Os marinistas desaprovam o impedimento
de Dilma simplesmente porque não gostam de Temer e desconfiam dos
peemedebistas.
Veem o risco de que o PMDB, tão enrolado quanto o PT na Lava Jato, crie empecilhos para apuração da roubalheira na Petrobras.
Ao levantar essa tese, Marina e sua Rede não só enterram a independência
e a força das instituições, como fermentam a cantilena de Dilma e do ex
Lula, de que as investigações só acontecem hoje por obra e graça dos
governos petistas.
Mas o que faz os marinistas e sua líder acharem que a Polícia Federal, o
Ministério Público e a Justiça fraquejariam nas investigações da Lava
Jato depois de um eventual impeachment? Por que o PMDB conseguiria
paralisar as ações do juiz Sérgio Moro, da Procuradoria-Geral da
República ou dos ministros do STF?
São ilações graves. E impróprias. Feitas única e somente para agradar a todos os públicos.
A Rede de Marina rejeita o impeachment por não querer briga expressa com
os petistas, que teriam nela a opção preferencial caso Lula não tenha
condições de se materializar candidato em 2018. Muito menos quer correr o
risco de esse grupo vê-la como alguém que se alia gente de “direita”,
como Temer e seu PMDB. Ao mesmo tempo, tem de falar com os 70% que
querem ver Dilma pelas costas. Daí apoiar a ação no TSE, cuja tramitação
pode correr por tempo interminável. É muro sobre muro.
Talvez no afã de ser diferente, Marina erre com frequência maior do que
seria desculpável. Demora a reagir, esconde-se diante dos conflitos,
frustra até aqueles que querem defendê-la. Não discorda nem concorda.
Imagina-se fiel da balança, entre o bem e o mal, capaz de dominar o
dificilíssimo meio-termo.
O espaço existe, é nobre e deveria ser ocupado. Mas Marina, ainda que
tente, nem chega perto dele. Sua omissão quando as coisas esquentam
aliada às convicções avessas como as expressas no último fim de semana a
coloca no mesmo barco dos oportunistas e reforçam os tempos de miséria
política do país.
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