Jornalista Andrade Junior

sábado, 23 de janeiro de 2016

Demagogia populista -

 EDITORIAL O ESTADÃO

Cada vez que abre a boca para exercitar o populismo incompetente com o qual levou o País à recessão econômica e à crise política e moral, Dilma Rousseff impede que os brasileiros esqueçam sua catastrófica passagem pela Presidência da República. Na última sexta-feira, em mais um café da manhã com jornalistas em Brasília, Dilma tratou de continuar fornecendo argumentos para a esmagadora maioria dos brasileiros que querem vê-la pelas costas.

Depois de ter arrombado as finanças públicas com a gastança irresponsável e desenfreada de seu primeiro mandato, Dilma está empenhada agora em buscar mais dinheiro onde, apesar de geralmente escasso, ele ainda parece disponível: o bolso dos contribuintes. E chamou os jornalistas para ouvirem seu discurso de governante preocupada, na verdade, com sua própria sorte. Para tanto, construiu uma narrativa revestida de pungente preocupação com a sorte dos desafortunados trabalhadores brasileiros, mas destinada essencialmente a dar um recado: o governo precisa desesperadamente de mais impostos. Para começar, a CPMF.

Do alto de sua soberba e empáfia, pontificou a presidente diante dos jornalistas: “A grande preocupação do governo é a questão do desemprego. E é por causa disso que nós achamos que algumas medidas são urgentes”. Dá para adivinhar? “Para reequilibrar o Brasil em um quadro em que há queda de atividade, implica necessariamente, a não ser que façamos uma fala demagógica, ampliar impostos. Estou me referindo à CPMF.” E passou a enumerar as admiráveis virtudes do chamado “imposto do cheque”: “Um imposto que se espalha por todos, de baixa intensidade, ao mesmo tempo que permite controle de evasão fiscal e tem um impacto pequeno na inflação, porque ele é dissolvido”. Espertamente, calou-se sobre a perversidade desse tributo, que incide em cascata sobre linhas inteiras de produção e incide sobre qualquer transação bancária.

Para começar, trata-se de pura demagogia populista afirmar que o desemprego é “a grande preocupação” do governo. Desemprego não é causa da crise, é consequência. Dilma deveria estar mais preocupada, portanto, em corrigir o enorme erro populista de ter tentado impor ao País uma política econômica voluntarista e intervencionista que resultou no desestímulo às atividades produtivas – à criação de riqueza, enfim, o que não depende só do governo, mas, sobretudo, do empreendedorismo da sociedade – e na consequente recessão econômica. Empregos não caem do céu, a não ser aqueles oferecidos pelo aparelhamento estatal. Dependem de que haja empresas em que sejam necessários. E não de governantes que não confiam na economia de mercado e preferem tirar vantagens políticas e pessoais da associação criminosa com empresários desonestos.

Dilma Rousseff, apesar de ultimamente, premida pelas circunstâncias, ter ensaiado tentativas tímidas e desajeitadas de autocrítica, continua insistindo em tapar o sol com peneira. Na conversa com os jornalistas, admitiu que há “queda de atividade”, eufemismo encabulado para recessão econômica. Mas só o fez para justificar a necessidade de “ampliar impostos”. Tranquilizem-se, porém, os brasileiros, porque, como imposto, segundo Dilma, a CPMF incomoda só um pouquinho. O que não elide o fato de que, por mais “pouquinho” que seja para cada cidadão – na verdade, é um tributo excessivamente oneroso –, é o preço adicional que está sendo pago pela incompetência governamental. E, pior, sabe-se lá onde os bilhões que serão arrecadados serão aplicados por um governo que já demonstrou ter um fraco por “boas notícias”, como exige Lula, o ilusionista, para quem é essencial que Dilma permaneça no noticiário prometendo aquilo que as pessoas querem ouvir.

O problema é que Dilma pisa feio na bola sempre que fala sem ler. Na sexta-feira, ao responder a uma pergunta sobre as manifestações públicas de protesto contra o governo, a presidente da República admitiu explicitamente que a convivência democrática com as divergências não é seu forte: “Tratar de democracia tem que se tornar, para nós, uma prática normal”. Talvez ela não venha ter o tempo necessário para isso.




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