por Ruth de Aquino Epoca
Quando foi mesmo que Lula e Dilma passaram a ser um constrangimento para a imagem do PT?
Não tem, neste país, uma viva alma mais honesta do que eu”, disse Lula.
Não tem. “Nem dentro da Polícia Federal, do Ministério Público, nem da
igreja evangélica e do sindicato.” Nem você, leitor, nem a Dilma, muito
menos o José Dirceu, agora acusado de gastar em um mês, como
“consultor”, até R$ 1 milhão, provenientes de propina de contratos da
Petrobras.
Ninguém é mais honesto que Lula. Você acredita nisso? “Pode ter igual,
mas eu duvido”, afirmou o ex-presidente. Isso é motivo de orgulho para
Lula. Natural. O ex-tesoureiro do PT Vaccari Neto não é mais honesto que
Lula. O ex-líder do governo no Senado Delcídio do Amaral também não.
Estão presos. Lula pede nossa solidariedade a Dirceu e Vaccari. “Não é
porque um companheiro da gente cometeu um erro que temos de execrar
ele.” Lula ignora o ainda senador petista Delcídio, que promete vingança
nos próximos capítulos.
O problema é que as frases de efeito de Lula, antes espirituosas e
aplaudidas, perderam valor. O valor da credibilidade. O valor da
simpatia. Uma declaração presunçosa como essa não consegue repercussão
positiva nem em seu PT nem nas bases sindicais. Lula e Dilma sofreram um
tombo maior que o das ações da Petrobras, ao ficar clara para a
sociedade a teia de mentiras – éticas, morais, econômicas, financeiras,
sociais – usada para enredar o eleitor e jogar o país numa crise que o
povo não merecia.
Lula afirmou que passará a processar jornalistas “para ver se retomamos a
dignidade profissional da categoria”. Bobagem, Lula, concentre-se no
essencial. Retome a dignidade do Planalto. Ajude Dilma a retomar a
popularidade perdida. Retome a confiança da população, que perdeu no ano
passado 1,5 milhão de empregos formais e que hoje pena nas filas do
seguro-desemprego com a greve do INSS. Retome a admiração do PT, que
decidiu não incluir o senhor e Dilma nos comerciais do partido para
evitar panelaços.
A desculpa oficial é que o PT quer priorizar a defesa da imagem da
sigla. Quando foi mesmo que Lula e Dilma passaram a ser um incômodo ou
um constrangimento para a imagem do Partido dos Trabalhadores? Isso só
pode ser fofoca de jornalistas. A cúpula do PT manterá ou não essa
posição? Certamente, no fim, a dupla Lula e Dilma aparecerá nas
“inserções comerciais” do PT nos dias 2, 4, 6, 9 e 11 de fevereiro. Ou
não?
É fácil explicar o conflito. O que o PT quer, o Planalto não pretende
dar. O PT quer correção da tabela do Imposto de Renda neste ano. Pelos
cálculos do sindicato de auditores, chegam a 72,2% as perdas na tabela
do IR entre 1996 e 2015. A correção ajudaria a minimizar os efeitos da
inflação (prevista neste ano para mais de 10%) sobre a renda dos
brasileiros. A intenção do governo é não corrigir.
“Nosso objetivo é o de não permitir que ninguém neste país destrua o
projeto de inclusão social que começamos a fazer em 1º de janeiro de
2003, é isso que incomoda”, afirmou Lula na mesma entrevista em que
posou de vítima na terceira pessoa: “Nas delações, o grande prêmio é
falar o nome do Lula”.
Ora, quem tem destruído as chances reais de inclusão social nos últimos
anos é o governo Dilma, que aumentou e muito os gastos públicos, inchou o
Estado e hoje é cobrado pela irresponsabilidade fiscal. Por mais que
Lula e Dilma busquem bodes expiatórios fora e dentro do país, a dupla
sabe muito bem que as bolsas e os subsídios tinham um efeito a curto
prazo.
A “mágica” da inclusão por meio do consumo virou abóbora de fim de
feira, sem os investimentos necessários e a longo prazo em Educação e
Saúde. Quebrado, o governo apela para a fórmula mais velha e injusta do
mundo: aumento de impostos, num país que já se esfalfa para pagar
tributos vários.
Ouvir o ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, chamar a CPMF de “poupança
necessária” explica panelaços. Ouvir Dilma dizer que a CPMF é um imposto
do bem “porque ele é dissolvido” explica vaias. Ouvir Lula dizer que,
“com 8% (de inflação) ao ano,
dá até para guardar dinheiro embaixo do colchão” explica seu
descolamento do drama dos descamisados. O único argumento de Lula para
defender o PT das acusações de roubo é que não foi o único a roubar:
“Tentar passar a ideia de que propina só (ocorreu com) o PT? É como se o PT fosse imbecil”.
Ninguém gosta mesmo de passar por imbecil. Talvez por isso Lula e Dilma
estejam “na bacia das almas”. A expressão foi criada em tempos
medievais. Era o recurso final dos que não tinham mais recursos. Numa
definição anônima que consta no Dicionário Informal, a bacia das almas é
o “último momento, última oportunidade oferecida como piedade, quando
outras oportunidades foram esquecidas anteriormente”.
Que se aproveite a última chance com seriedade e trabalho, e não com empáfia e propaganda.
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