EDITORIAL CORREIO BRAZILIENSE
A decisão não surtiu o efeito esperado. O ano de 2015 fechou com inflação de 10,67%, resultado dos reajustes dos preços administrados, como combustível, energia, transporte, com forte impacto nos gastos dos setores público e privado. O desemprego passou de 8% e deverá superar 12% até o fim de 2016. O país está em recessão.
O esforço da equipe econômica, sob o comando do então ministro Joaquim Levy, de corrigir o deficit fiscal e realinhar o Brasil na rota de crescimento fracassou. Os cortes sugeridos nas despesas e nos programas de governo não tiveram boa acolhida no Executivo e menos ainda entre aliados no Congresso. Os gastos seguem sem o devido lastro financeiro.
Agora, a falta de confiança chega ao Banco Central. Pressionado pelo Partido dos Trabalhadores (PT) e pela presidente da República, o presidente da instituição, Alexandre Tombini, protagonizou episódio sem precedentes na semana de reunião do Copom, quando os integrantes ficam em silêncio como estratégia de controle das expectativas de mercado.
Às vésperas do encontro, por meio de nota, Tombini sinalizou que o comitê levaria em consideração as projeções do Fundo Monetário Internacional. A declaração em si não teria tanta importância se não tivesse sido dada um dia depois de ele ter sido chamado ao Palácio do Planalto. O FMI previu que a economia brasileira encolherá 3,5% neste ano e ficará estagnada até 2017.
Para o mercado, que esperava alta de 0,5 ponto percentual da taxa Selic, o comportamento de Tombini indica subordinação aos interesses políticos do Executivo, que não deseja alta de juros. A decantada autonomia do BC escorreu pelo ralo. Ou seja, a perda de credibilidade do Executivo contamina a autoridade monetária e amplia as incertezas em relação ao compromisso de trazer a inflação para o centro da meta no próximo ano - promessa nunca cumprida desde 2012.
A essa altura, aumentar ou não a taxa Selic em 0,5 ponto percentual passou a ser o menor dos problemas. O grande nó é a descrença nas autoridades. Quem em sã consciência se arriscaria a investir no país cuja política monetária e econômica está submetida aos interesses do partido da situação? Quem buscará crédito a preços exorbitantes para expandir uma unidade produtiva ante tantas incertezas?
A falta de credibilidade ganha peso extraordinário e se torna o pior adversário do governo. É hora de reconhecer que, sem conter gastos, pôr fim às mordomias e eliminar o excesso de cargos que abrigam apaniguados e outros penduricalhos, o país seguirá atolado no pântano da estagnação econômica, com graves e profundos danos a toda a sociedade.
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