por Igor Gielow Folha de São Paulo
É prematuro ver no sorridente e mercurial novo presidente argentino,
Mauricio Macri, a encarnação da salvação dos males da América Latina ou
uma reedição do canastrão Carlos Menem.
Naturalmente, ele toca música para o mercado que o recebeu de braços
abertos em Davos, o encontro dos poderosos que interessam. Lula, a "alma
viva mais honesta" e que nada sabe nem sobre seu filho, aprendeu
rapidamente sobre o poder dos holofotes congelados locais.
Perto do casal Kirchner, estrela de bolero do populismo à esquerda que
encontra seu ocaso no continente, Macri é um avanço visível, mas algumas
de suas medidas autoritárias de saída e reações intempestivas o colocam
imediatamente sob suspeição.
Além disso, falamos de uma ruína institucional chamada Argentina, que
assim é há décadas. O Brasil, desgovernado há anos e sob o escrutínio da
Lava Jato, ainda mantém um arcabouço com certa estabilidade.
Que resiste a despeito do PT, e não por causa dele, como Dilma e Lula
gostariam que você acreditasse. O partido levou ao paroxismo práticas de
corrupção e criou outras. E retrocedeu o país a indicadores econômicos
da década de 1990 e quebrou tecnicamente sua maior empresa.
A crise bateu de vez no emprego, bastião de boas notícias no primeiro
mandato de Dilma. Não há meias palavras sobre a gravidade da situação;
para uma supersticiosa assumida, foi estranho ver a presidente se
comparar a um antecessor que deu um tiro no peito quando a coisa
apertou.
No mínimo, porque simbolismo é algo importante na política. Macri já
percebeu isso, mas vai precisar fazer mais do que postar fotos de
bilhetes de voo comercial para poder viver o felizardo a dizer "Eu sou
você amanhã" da velha propaganda de vodca.
Dando certo ou se provando um embuste, ele hoje oferece algo que não há
na nossa versão tropical do ouroboros, a cobra que come o próprio rabo:
mudança de rumo.
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