Jornalista Andrade Junior

domingo, 31 de janeiro de 2016

"Imobilismo diante de uma crise que se agrava",

editorial de O Globo

O ex-ministro Delfim Netto, em entrevista ao ‘Valor’, prenuncia uma ‘tragédia’ se Dilma não assumir suas responsabilidades e encaminhar propostas de reformas


Mantidos os juros em 14,25%, como desejavam Planalto e PT, as projeções semanais dos departamentos de análise do mercado financeiro, coletadas pelo próprio BC e divulgadas no Relatório Focus, sinalizaram piora nas estimativas da inflação deste ano (de 7% para 7,23%, distanciando-se mais ainda dos 6,5% do teto da meta de 4,5%) e a mesma recessão projetada uma semana antes (3% em vez de 2,99%).
O governo anunciará medidas, já com a assinatura do ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, para resgatar o país da indigesta mistura, em doses elevadas, de recessão e inflação. Sabe-se que vem por aí mais oferta de crédito — quando ninguém quer se endividar, por não confiar num governo que não enfrenta a crise fiscal com as devidas reformas estruturais. Como é necessário.
Em entrevista ao jornal “Valor”, o ex-ministro Delfim Netto, de trânsito em hostes lulopetistas, adotou o estilo “papo reto”. Segundo ele, se Dilma não assumir suas responsabilidades e, na reabertura do Congresso, dia 2, não for aos parlamentares com propostas de reformas constitucionais e infraconstitucionais, será “uma tragédia”. Ou seja, mais três anos de recessão e, depois, um longo período de baixo crescimento.
Delfim aponta três reformas: da legislação trabalhista, da Previdência e para desindexar e desvincular gastos do Orçamento. O assunto consta do documento do PMDB “Uma ponte para o futuro”, já bombardeado por Dilma e PT.
Pior para o governo e o país. Delfim se junta a incontáveis analistas que alertam para a ineficácia de se aumentar o volume de crédito, porque “há falta de tomador de crédito", reforça o ex-ministro.


Mas Dilma, fiel a seu estilo, deverá apostar até as últimas fichas na mágica de recolocar a economia em movimento sem fazer o devido ajuste fiscal. Admita-se que é quase nulo o espaço político para que ela proponha as reformas e as mudanças necessárias. No seu partido e fora dele. Mas precisaria fazê-lo.
Em vez disso, Dilma relançará amanhã o Conselhão (Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social), criado por Lula em 2003, sob inspiração do assembleísmo do movimento sindical. Parecia um caminho para contornar o Congresso: decidir tudo entre corporações e apresentar o pacote pronto aos parlamentares. Se não funcionou na Constituinte, quando uma comissão presidida pelo inatacável Afonso Arinos redigiu um projeto afinal desconsiderado, não funcionaria com PT, CUT, Fiesp etc.
Relançar o Conselho de Desenvolvimento com famosos das artes cênicas e celebridades do mundo empresarial é procurar entreter a plateia. Dilma tem suas convicções (equivocadas) arraigadas, e o Conselho servirá de mero adereço de mão para seu governo simular um debate corporativo inútil. O Conselhão cumpre a função daquela comissão criada para nada decidir. Enquanto isso, a crise avança






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