Editorial do Estadão:
Notícias sobre envolvimento de políticos
oposicionistas em ações de corrupção são invariavelmente exploradas
pelos líderes petistas em pronunciamentos oficiais e pela militância do
partido nas redes sociais como se isso fosse capaz de justificar e
legitimar o assalto aos cofres públicos praticado em dimensões oceânicas
desde que Lula e sua tigrada assumiram o poder. Há corruptos, sim,
também entre os políticos da oposição. Qual é a novidade? Negar essa
obviedade é tão despropositado e ridículo quanto o chefão do PT se
proclamar o mais honesto dos brasileiros. O
que a prática generalizada da corrupção na gestão da coisa pública
demonstra é que o sistema político patrimonialista em vigor desde os
tempos coloniais é viciado e não serve aos propósitos de uma sociedade
que se pretende moderna e genuinamente democrática. O sistema precisa
urgentemente de reforma. E em 13 anos no poder o PT não moveu uma palha
nesse sentido.
O fato de os petistas explorarem em benefício
próprio as notícias sobre corrupção praticada pelos oposicionistas
demonstra, desde logo, que essas notícias existem e são veiculadas por
todos os meios de comunicação, o que desmonta o argumento de Lula &
Cia. de que impera no país uma “imprensa golpista” que protege a
oposição, manipula o noticiário em benefício dos interesses da
“burguesia” e por isso se esmera em caluniar o PT, único e legítimo
defensor dos fracos e dos oprimidos.
É verdade que a quantidade das notícias sobre a
delinquência dos petistas e aliados – a rigor, cúmplices – sobrepuja em
muito o número de notícias sobre as lambanças de gente da oposição.
Mais uma vez, porém, qual é a novidade? Há mais de uma década o partido
que surgiu para lutar contra “tudo isso que está aí” chegou à conclusão
de que não adianta dar murro em ponta de faca e se entregou sem o menor
constrangimento ao aperfeiçoamento das mesmas práticas que passara a
vida condenando. Tudo em nome, é claro, de uma causa nobre: a
perpetuação no poder da “opção popular”.
E veio o mensalão, brincadeira de criança
comparada com a “privatização” da Petrobras em benefício de políticos,
empresários e espertalhões de variadas especialidades. Durante anos
seguidos, a partir do primeiro mandato de Lula, o assalto aos cofres das
estatais foi-se tornando cada vez mais amplo e bem-sucedido, a ponto de
os envolvidos na mamata nem imaginarem que a lei os pudesse alcançar.
Tiveram uma surpresa com o processo do mensalão. E em março de 2014 uma
operação policial de nome estranho, Lava Jato, começou a puxar o
primeiro fio da meada que hoje parece inesgotável.
A partir de então, praticamente todo dia surge
a notícia de um fato novo no trabalho da Polícia e do Ministério
Público federais. Praticamente toda semana algum juiz, não apenas Sergio
Moro, manda para a cadeia um figurão pego com a mão na massa. Os
principais delitos praticados são o tráfico de influência, o
favorecimento a prestadores de serviços públicos, inclusive na forma de
superfaturamento, e o desvio de recursos para o fim de pagamento de
propina. Crimes que obviamente só podem ser praticados com a
cumplicidade de quem tem o poder de prover. O que não costuma ser o caso
dos oposicionistas.
Assim, a tigrada aperfeiçoou métodos, mas não é
original na essência do que faz. Há mais de meio século, os
correligionários de um importante político paulista, que foi prefeito da
capital e governador do Estado, proclamavam com orgulho: “Rouba, mas
faz”. Hoje, a tigrada rouba, deixa roubar e não “faz”. A não ser que se
considere um progresso o fato de o atual governo lulopetista estar pondo
a perder os avanços que os brasileiros mais pobres conquistaram quando o
governo Lula tinha dinheiro para investir em programas sociais.
Melhor faria agora a tigrada petista se
levasse a sério o diagnóstico feito semanas atrás pelo ministro-chefe da
Casa Civil da Presidência da República, Jaques Wagner: “O PT errou ao
não ter feito a reforma política no primeiro ano do governo Lula. E aí
não mudou os métodos do exercício da política”. E agora vai mudar?
extraídadacolunadeaugustonunesopiniãoveja
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