Jornalista Andrade Junior

quarta-feira, 24 de junho de 2015

VELHOS LIBIDINOSOS -

DIANA LICHTENSTEIN CORSO  ZERO HORA

Um fazendeiro americano octogenário está preso por assédio sexual. Não se trata de um vovô tarado, como tantos que destruíram vidas de netas e crianças da vizinhança, mas de um marido que insistiu em fazer sexo com a esposa doente. O casal vivia um amor tardio, ambos viúvos conheceram-se no coral da igreja e nos últimos anos constituíam um par romântico. Infelizmente, ela ficou com Alzheimer e por isso a relação entre ambos foi considerada criminosa.

Os especialistas de acusação, contratados pela filha, e da defesa obviamente divergem. Os primeiros dizendo que a demência faz o encontro deles equivaler-se ao estupro de uma criança por um desconhecido; já para os que não o culpam, o desejo erótico, assim como a fome, é uma busca de satisfação que a doença não suprime e pode inclusive ser benéfica.
Nesses quadros a memória não desaparece de forma contínua, há lampejos de reconhecimento. Quem convive com um desses doentes que se perdem de si mesmos, percebe que alguns laços afetivos sobrevivem, assim como rudimentos de carinho e alegrias. De fato, não sabemos se aquele ato sexual foi um abuso repulsivo ou o patético resto de um romance, mas não nos surpreende que o caso tenha sido rumoroso.
A polêmica em torno do casal de senhoras maduras e gays que recentemente trocou um beijo nas telas brasileiras, onde as telenovelas são formadoras de opinião, fala do mesmo fenômeno. Certamente dois tabus foram rompidos naquela cena, mas pouco se falou do preconceito contra a sexualidade dos idosos.
Por que preocupa-nos tanto manter o desejo erótico tão delimitado? Beijos, carícias, olhares e juras de amor são controlados não somente no que diz respeito aos clichês de gênero, mas também aos parâmetros do tempo. Acredita-se que o desejo dure enquanto temos corpos férteis e bonitos. A imagem de velhos na cama, com suas peles enrugadas e seus cabelos brancos, beijando-se, penetrando-se e trocando olhares lânguidos é tão inadmissível para o senso comum quanto a de pessoas do mesmo sexo protagonizando a cena. Talvez até mais, por quê?
Os desejos sexuais, prescritos por lei ou não, são, como dizem os advogados de defesa do senhor, uma carga vital importante e persistente. Não vivemos sem comer e a gula é admissível ao longo de toda a vida, mas o sexo sempre foi considerado optativo e temporário. A experiência erótica ocupa muito mais espaço imaginário do que real: é tão rocambolesco, neurótico e cansativo o roteiro de fatos e fantasias que envolve a vida sexual, que espera-se que um dia acabe. Soa até tentadora a ideia de que todo esse imbróglio seja finito, de que também disso se aposente. Então chegam esses velhos a dizer-nos que não haverá descanso, que seguimos até o fim à mercê dos impulsos eróticos. Assim é, aproveite se quiser e puder.








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