Jornalista Andrade Junior

terça-feira, 23 de junho de 2015

Rio cidade aberta (ao tráfico, ao crime, à violência)

Pedro do Coutto


O título, claro está praticamente repetindo, o que usou Roberto Rosselini no famoso filme “Roma Cidade Aberta”, focalizando os últimos dias do governo fascista italiano. Era 1944 e a Itália estava sendo invadida pelas forças americanas e brasileiras, que ao lado dos partizani lutavam para libertar o país do nazismo, que também a ocupavam,buscando manter Mussolini no poder. O filme incluía cenas reais dos combates e marcou o início do neorrealismo no cinema. Esse realismo agora se aplica com propriedade ao que se passa na cidade do Rio de Janeiro em matéria de fracasso quase total da política de segurança do governo Pezão.
A capital do RJ hoje está sob o domínio do tráfico de entorpecentes , do crime em série, da violência e dos assaltos que se sucedem nas ruas e nas praças, muitos deles terminando em assassinatos. Reflexo da desordem urbana o Rio 2015 é uma cidade aberta a todos os fatores sintetizados na frase que inspira o título deste artigo. Desnecessário lembrar a morte do médico Jaime Gold, na Lagoa Rodrigo de Freitas, por uma bicicleta que atraiu os assassinos. Mas deve-se destacar que, após Jaime Gold, verificou-se uma série de esfaqueamentos na cidade atingindo as vítimas de um cotidiano absolutamente insano.
O comércio imundo das drogas está atrás de tudo, pois criou um mercado de câmbio próprio na medida em que os assaltantes acham que vão multiplicar o produto de seus roubos comprando e revendendo tóxicos e adquirindo o pernicioso crack. Perniciosos, aliás, são todos os entorpecentes, cujos consumidores na realidade direta ou indiretamente financiam a violência.
FORA DA REALIDADE        
O governo estadual revela-se ausente da realidade, tanto assim que o próprio governador Pezão, há poucos dias, matéria divulgada pela GloboNews, afirmou que pretendia regularizar até dezembro os pagamentos a serviços prestados e aquisição de equipamentos necessários ao setor de saúde. Nós estamos no mês de junho. Os atrasos de pagamento, é claro, não se limitam aos serviços médicos e são reveladores de um distanciamento entre o Executivo e o cotidiano das ruas cada vez mais ameaçadas.
Na edição de domingo de O Globo, a repórter Waleska Borges escreveu que os moradores de Laranjeiras vão usar apitos em bloco, contra a violência no bairro. Perfeito. É uma forma legítima de manifestar a inquietação contra a omissão. Na mesma página em que a reportagem foi publicada, uma notícia sobre o novo esfaqueamento desta vez tendo vítima um taxista que se recusou a levar um passageiro a um morro Juca Branco, em Niterói. Levou dez facadas. O criminoso fugiu com o carro, abandonando-o pouco depois.
Este foi mais um retrato de como a violência produz vítimas em série nas áreas urbanas. Qual a resposta do Palácio Guanabara? Nenhuma. O poder no Rio de Janeiro encontra-se adormecido, num torpor que tem origem num tradicional escapismo que marca as últimas administrações estaduais.
REFORMA DO FATOR PREVIDENCIÁRIO
Reportagem de Valdo Cruz, Cláudia Rolli e Paulo Muzolon, Folha de São Paulo, na edição de domingo, revela que a presidente Dilma Rousseff está pretendendo vetar a emenda aprovada pelo Congresso alterando com o fator previdenciário. Vetando, sofrerá de fato uma derrota enorme porque seu argumento não convence ninguém. Ela se baseia no objetivo de fixar uma idade mínima para todos os aposentados.
Uma farsa. A idade mínima já se encontra praticamente atribuída no texto aprovado pelo Legislativo: 60 anos para os homens 55 para mulheres, além da necessidade de terem trabalhado respectivamente 35 e 30 anos, salvo profissões de risco excetuadas na legislação. A matéria acrescenta que Dilma Russeff pretende debater a nova fórmula com dirigentes sindicais. Só pode ser um teatro armado, mais um descumprimento do que afirmou na campanha eleitoral.
POR QUEM OS JUROS SOBEM?
Comecei este artigo citando Rosselini, no bloco final repito o título que Henrique Meirelles, ex-presidente do Banco Central, deu ao seu artigo de domingo, igualmente na Folha de São Paulo, recorrendo a Hemingway e também ao filme de John Ford sobre a guerra civil espanhola. O título do romance é Por Quem os Sinos Dobram. Pelas vítimas do bombardeio nazista que garantiu general Franco no poder em 1935.
Agora no Brasil não é difícil saber por quem os juros sobem. Seria para conter a inflação num lance de política financeira. A qual, entretanto, traz consigo reflexos em favor da rentabilidade dos bancos e dos fundos de investimentos. Pois quando o devedor propõe ao credor pagar juros mais altos é porque está procurando captar mais recursos no mercado para financiar seus projetos. É a única explicação lógica para tal procedimento, sem discutir a eficiência ou não desse rumo.





extraídadatribunadainternet

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