por Valdo Cruz Folha de São Paulo
Dilma vai ao fundo do poço nas pesquisas e Lula ajuda a cavar ainda mais
o buraco. Agora, admite que os tucanos estavam certos: Dilma mentiu na
campanha ao dizer que não faria ajuste e que não mexeria em direitos
trabalhistas. Fez e mexeu, disse o petista.
Falta ao criador, porém, uma certa dose de autocrítica. Ele sabia muito
bem que sua criatura vendia ilusões na campanha e que, se não tivesse
prometido tais miragens, teria colhido pesadelos nas urnas.
O petista sempre se queixou de erros cometidos no primeiro mandato pela
presidente, que, sabia e até defendia, teriam de ser corrigidos no
segundo. Agora, é fácil tirar o corpo fora e reclamar que Dilma só fala
de ajuste e não gera notícia boa.
Até que ela tenta. A última que lançou, seu programa de concessões, foi
sufocada por inflação em alta, desemprego crescente, economia esfriando e
prisão de donos das empreiteiras, notícias divulgadas de uma só vez na
sexta passada.
O fato é que, antes de arrumar os estragos feitos na economia, haja
notícia boa para mudar o ânimo dos brasileiros. Com Lula dando sua ajuda
por aí, Dilma tem de torcer para que sua aprovação não caia abaixo do
limite dos dois dígitos, 10%, registrados pelo Datafolha.
E por falar em Lula, enquanto presidente ele não perdia uma só
oportunidade, nos contatos com seus colegas da América Latina e da
África, para defender os interesses das grandes empreiteiras
brasileiras.
Até aí, tudo bem. Outros presidentes fazem o mesmo. Faz parte do
trabalho de promoção de seus países. Depois, fora do governo, ser
contratado para ricas palestras por essas empresas é retribuição, mas
não pode ser visto como ilegal.
Agora, se ficar provado que as empreiteiras se meteram em corrupção no
governo petista e irrigaram o caixa do seu partido, todo trabalho de
caixeiro viajante do ex-presidente e suas ricas palestras serão
colocados em dúvida. No mínimo.
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