Mauro Paulino e Alessandro Janoni - Folha de São Paulo
Nos últimos dois meses, continuou crescendo o grupo que reúne eleitores
frustrados com Dilma Rousseff, isto é, aqueles que votaram na petista no
segundo turno e que hoje a consideram ruim ou péssima na condução do
país. Eram 15% em abril e totalizam agora 20%.
Parte de seus eleitores que na ocasião estavam apreensivos ou satisfeitos, passaram agora a reprová-la.
O índice recorde de impopularidade a coloca em patamar semelhante ao de
Collor em véspera de impeachment e ao de Sarney em final de mandato. E
não por acaso, a economia e o desemprego, que há algum tempo não
figuravam como problemas primordiais do país, voltam agora a assombrar o
imaginário dos brasileiros.
Com isso, outro time passa a ocupar o vácuo de liderança política,
jogando para a torcida. A desarticulação do governo deixa espaço para
que a pauta do Congresso se cole na opinião pública no auge da crise de
representação. As inversões de posicionamento da maioria quanto à
reeleição e ao voto facultativo ilustram o terreno movediço e sensível
sobre o qual o Legislativo age, desprezando o debate e a participação.
É revelador, portanto que, em momento econômico tão nebuloso e
determinante da opinião pública, muito mais brasileiros tenham ouvido
falar de Renan Calheiros, Eduardo Cunha e Michel Temer do que de Joaquim
Levy.
Para reverter o quadro, Dilma teria que reconquistar ao menos parte de
seus eleitores, já que o conjunto dos que não a elegeram é extremamente
refratário à presidente.
A identificação da variável de maior peso na corrosão de sua imagem é
fundamental para projetar perspectivas de eventual recuperação.
Não há dúvidas de que a economia do país é o fator determinante, mas
quais são os vetores econômicos de maior correlação com a curva negativa
da petista? Uma análise estatística feita pelo Datafolha indica que as
expectativas da população quanto à influência da crise no seu dia a dia
explicam mais a evolução da impopularidade da petista do que, por
exemplo, o comportamento da taxa real de inflação ou do índice oficial
de desemprego.
O grau de correlação entre a variação do IPCA acumulado de 12 meses, com
a curva de popularidade de Dilma Rousseff ao longo de seu mandato até
alcança um escore alto, mas fica bem abaixo da influência exercida pelo
pessimismo sobre o poder de compra dos salários e também da expectativa
de aumento do desemprego.
Aliás, temor tão grande em relação ao desemprego não se vê desde junho
de 2001, no segundo mandato de FHC. Esse baixo-astral coletivo deve
manter-se enquanto a percepção de risco prevalecer na população.
Hoje, líderes políticos, tanto de governo quanto de oposição, mal
avaliados mesmo adotando agenda de fácil apelo popular, não conseguirão
mudar o quadro até que ao menos parte dessa insegurança se dissipe.
Momento crucial será o final de 2015, início de 2016, período em que o plano das percepções costuma deparar-se com a realidade.
extraídaderota2014blogspot
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