editorial de O Globo
É equivocado Lula e seguidores cobrarem alguma proteção nas investigações da Lava-Jato, porque Justiça, MP e PF são do Estado brasileiro, não de governos
Da lista de causas do desgosto de Lula com Dilma e governo — o ajuste, a
coordenação política etc. —, consta um mal-estar específico com a
suposta leniência da presidente, e do próprio PT, diante de suspeições
sobre o relacionamento do ex-presidente com empreiteiras.
Quanto ao PT, é difícil imaginar o que poderia fazer o partido na
tentativa de blindar seu líder supremo — além de declarações e notas
oficiais de praxe —, pois ele próprio não está nada bem nas
investigações da Lava-Jato.
Se, com relação a Lula, o que existe até agora são ilações, acerca do PT
há provas testemunhais e documentais de algum tipo de envolvimento de
políticos da legenda com dinheiro desviado da Petrobras pelo esquema do
petrolão. Pode ser que não soubessem que propinas estavam sendo
“lavadas” na conversão em doações legais na Justiça eleitoral, mas
parece haver provas contundentes da irrigação das finanças petistas e
outras — partido e políticos —, por dinheiro da corrupção na Petrobras.
Além de enriquecimento pessoal.
É com base nessas provas que o juiz federal Sérgio Moro tem mantido
presos, a pedido do Ministério Público, executivos e acionistas de
empreiteiras, e até mesmo o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto. E nem
sempre instâncias superiores têm aceitado pedidos de habeas corpus para
os detidos, sinal de que há consistência na argumentação do juiz e
promotores.
Parece que o próprio Lula esqueceu o histórico do mensalão, o
escândalo-símbolo dos seus oito anos de Planalto. Mesmo com o PT tendo
nomeado boa parte dos ministros do Supremo que julgaram aquele processo,
petistas ilustres foram condenados.
O lulopetismo já deveria entender que o Brasil tem uma diferença radical
e positiva em relação a Venezuela e Argentina, dois países de que os
petistas são admiradores: as instituições republicanas brasileiras estão
cada vez mais fortes.
E com o mensalão, a Justiça, o Ministério Público e a própria Polícia
Federal ganharam ainda mais contraste diante do governante de turno. É
inimaginável no Brasil contemporâneo que o Planalto tenha alguma margem
para manobrar na defesa de algum interesse que não seja o da lei junto
ao Ministério Público, autônomo desde a Carta de 1988, ao poder
independente do Judiciário e mesmo perante à PF, colocada na hierarquia
do Ministério da Justiça, mas típico organismo de Estado, com
prerrogativas próprias.
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