editorial de O Globo
Com um tesoureiro já condenado à prisão e outro detido em regime provisório, o partido já tem a imagem bastante avariada, e por isso precisaria agir com cautela
Depois de duras e inéditas críticas públicas de Lula a seu partido, algo
jamais visto em 35 anos de PT, o líder partidário supremo se reuniu com
o presidente da legenda, Rui Falcão, na quarta-feira, e, no dia
seguinte, a comissão executiva nacional petista emitiu nota com 16
itens, interpretada como resultado do entendimento entre o criador do PT
e sua criatura.
Em três dos itens, críticas à Operação Lava-Jato, de desmontagem do
esquema do petrolão, responsável por um assalto bilionário à Petrobras,
numa aliança entre partidos e empreiteiras. O resultado do saque
beneficiou, como já comprovado, políticos do PT, PMDB e PP.
Representantes dessas mesmas legendas, entre algumas outras, também
foram pilhados em um primeiro esquema de ordenhamento de dinheiro de
estatal, o Banco do Brasil, no golpe batizado de mensalão.
Uma coincidência entre o mensalão e o petrolão é sugestiva: dois
tesoureiros do partido foram presos. No mensalão, Delúbio Soares ainda
cumpre pena, há algum tempo em regime aberto; no petrolão, João Vaccari
Neto continua detido em Curitiba, em prisão provisória. Vê-se que o
envolvimento do partido nos casos de corrupção foi intenso.
A nota do partido alveja um ponto fraco da Lava-Jato, operação em que se
destacam o juiz federal Sérgio Moro, promotores (MP) e a Polícia
Federal. É fato que a prodigalidade com que Moro decreta prisões
preventivas e temporárias preocupa juristas e magistrados de instâncias
superiores.
Consta que a técnica é inspirada na Mani Pulite, a Operação Mãos Limpas,
desfechada na Itália para desbaratar esquemas entre políticos e a
máfia. Nela, prisões preventivas longas facilitaram a obtenção de
delações premiadas e de provas adicionais.
Há, ainda, preocupação com a qualificação de policiais federais e
promotores para decifrar questões e termos técnicos usados no mundo dos
negócios e com os quais se deparam na coleta de provas. Como lhes falta
conhecimento, e parece não terem consultores especializados, há o risco
de provas que justificam prisões serem inconsistentes.
Mas o PT comete um erro político ao obedecer ao líder máximo e investir
contra a Lava-Jato. Afinal, mesmo com os reparos que possam e devam ser
feitos — ninguém deseja que todo um trabalho de investigação como este
seja derrubado mais à frente por falhas processuais —, o PT, com os
ataques a Moro, promotores e PF, apenas piora de imagem, já trincada,
junto à população.
Militantes sempre podem ser mobilizados para aplaudir “heróis do povo
brasileiro” na figura de mensaleiros condenados, Vaccari e outros. Já a
massa de eleitores costuma se comportar de forma diferente. Como
demonstram pesquisas recentes. Melhor faz a presidente Dilma, discreta
espectadora do trabalho de organismos do Estado.
extraídaderota2014blogspot
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