por Bernardo Mello Franco FOLHA DE SÃO PAULO
Quando Marina Silva virou favorita na tumultuada campanha de 2014, Lula
confidenciou a aliados que uma derrota do PT não seria tão ruim assim.
"Ruim mesmo é a Dilma ganhar e não mudar", disse, segundo o relato de um
petista.
Dilma ganhou, e as coisas mudaram para pior. Ela perdeu o controle da
economia, viu sua base se esfarelar no Congresso e se tornou a
presidente mais rejeitada desde Collor.
Na semana passada, Lula reclamou da sucessora e disse a religiosos que
os dois chegaram ao "volume morto". Ele reconheceu que Dilma mentiu para
se reeleger e agora está fazendo o oposto do que prometeu.
Nesta segunda, o ex-presidente estendeu as queixas ao PT. Afirmou que o
partido "está velho", "só pensa em cargo" e sucumbiu ao "cansaço". Só
faltou dizer que seria melhor ter perdido a eleição do ano passado.
Lula deixou o poder como o governante mais popular da história recente.
Recebeu homenagens, manteve o discurso triunfalista e foi descrito como
um "Pelé no banco de reservas". Seu retorno ao Planalto parecia ser
questão de vontade.
Bastaria estalar o dedo para voltar nos braços do povo, como Getúlio em 1950.
A guinada no discurso sugere que o ídolo se descobriu com pés de barro. O
Datafolha confirmou que ele ainda é forte, mas deixou de ser imbatível.
Se a eleição de 2018 fosse hoje, teria apenas 25% dos votos.
O ex-presidente fez o desabafo aos religiosos na quinta-feira, antes de a
Lava Jato atingir os chefes da Odebrecht e da Andrade Gutierrez. Seria
interessante vê-lo de volta ao confessionário no dia seguinte, depois da
prisão dos amigos empreiteiros.
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