por Vinicius Torres Freire FOLHA DE SÃO PAULO
A reação dos líderes políticos de Dilma Rousseff à notícia do Datafolha
de que o governo é detestado por dois terços dos eleitores mostra o
quanto essas pessoas estão desnorteadas. Estão sendo tomadas "medidas
para reverter a situação", dizem: financiamento da agricultura (Plano
Safra), concessões de infraestrutura, Minha Casa Minha Vida 3 e, agora,
um "grande plano" de reforma agrária.
Parece alguém a dizer "sim, a casa está pegando fogo, mas vamos instalar
uma torneira e colocar uns móveis novos no incêndio". Não cola nem como
propaganda.
Compare-se essa conversa com a discussão econômica mais básica do
momento: 1) A inflação e o arrocho de juros; 2) O fracasso parcial do
reequilíbrio das contas do governo e a situação fiscal sombria dos
próximos dois anos.
A "agenda positiva" do governo, para empregar essa expressão sebosa, não
faz coceira nesses problemas. Está claro que o governo precisa ter
planos além de arrochos, sem o que, aliás, nem os arrochos vão prestar.
Mas reforma agrária, seja lá o que ainda for isso, e casa popular não
têm nada a ver com tal programa econômico maior. De resto, nem vai haver
dinheiro para tanto. Enfim, se o governo conseguir dar sentido prático à
parte razoável do plano de concessões, seu efeito começará lá pela
metade de 2016.
Pelas estimativas atuais, a regressão econômica que começou em 2014 vai
além de 2016 (haverá redução do PIB, da renda ou produção média por
cabeça). Se tudo der certo, zeram-se as perdas ao final de 2017. Ou
seja, em 2018, teremos voltado a 2013, correndo o risco de estagnação
crônica. Esse é o tamanho do problema, não a agenda de relações públicas
da presidente.
Voltando à vaca fria no brejo de agora, considere-se a inflação.
A estimativa de inflação para este 2015 aumenta desde o início do ano:
foi de 6,6% para 9%. A inflação prevista para 2016 continua no entanto
mais ou menos na mesma desde janeiro. Era então de 5,7% e está em 5,5%
desde o início de maio.
Portanto, a máquina de cuspir números dos economistas e suas calibragens
arbitrárias diz pelo menos que a barriga de inflação deste ano será
queimada na esteira do aumento de juros e pela recessão musculosa. Ou
seja, o aumento de 2,4 pontos na expectativa de inflação para 2015 não
será repassado para a inflação de 2016 graças a arrochos e crenças menos
degradadas sobre o futuro.
Mas tudo isso quer dizer também que haverá ainda arrocho e recessão
maiores ou duradouros para levar a inflação à meta. Muito mais arrocho
para chegar à meta em 2016 (plano do BC); arrocho ainda para fazê-lo em
2017.
Quanto ao plano modesto de reequilibrar as contas do governo, ele faz
água, pois a receita não sobe e Dilma 1 deixou despesas horríveis. Isso
quer dizer que o arrocho de gastos e a derrama de impostos ainda vão
longe.
Esses consertos rudimentares seriam facilitados se houvesse medidas
extremas e imediatas (alta forte de impostos, privatizações,
desvalorização extra do real) e um plano maior e de prazo mais longo
(revisão duradoura de gastos, metas menores de inflação, mudanças
institucionais em vários mercados). Em suma, o que os governos do PT,
Dilma 1 em particular, não fizeram ou prejudicaram nos últimos sete
anos, por aí.
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