editorial do Estadão
O rombo bilionário no patrimônio da maior estatal brasileira, a
Petrobrás, e a onda de descrédito que reduz a cinzas sua reputação,
construída em meio século de conquistas e competência, trazem à tona
prejuízos em alta escala causados por propinas e sobrefaturamento. Mas
os efeitos desastrosos que comprometem a sobrevivência de pequenas
empresas e trabalhadores, cujas vidas foram afetadas pelo escândalo, são
difíceis de quantificar, pois os negócios são pequenos e pulverizados. A
reportagem dos enviados especiais do Estado ao
Recife Alexa Salomão e Alex Silva, Petrobrás espalha prejuízos e
desilusão, revela como o escândalo afetou a realidade de pequenos
negociantes e operários que sonharam com dias melhores, anunciados nas
promessas do governo e da empresa, e agora enfrentam dificuldades para
sobreviver com dignidade.
O Nordeste é o cenário onde se percebe esse drama da forma mais evidente
e cruel. O renascimento, em grande estilo, da cadeia de petróleo e gás
no Brasil, prometido pelo governo, produziu sonhos dourados que se
tornaram pesadelos no Porto de Suape, a 40 quilômetros da capital
pernambucana. Lá se instalaram estaleiros, como o Atlântico Sul, e,
principalmente, o megalomaníaco projeto de Abreu e Lima, primeira e
maior de uma sequência de refinarias, que incluía a Premium I, no
Maranhão, e a Premium II, no Ceará. A euforia foi imensa e o tombo,
depois das revelações da corrupção devassada pela Operação Lava Jato,
mostra-se traumático. Revelados roubo e sobrepreço, cancelaram-se as
obras de duas refinarias. “Ao menos, a Abreu e Lima foi construída, o
que não ocorreu com as demais refinarias.
Entre mortos e feridos, só saímos feridos”, disse Tiago Norões,
secretário de Desenvolvimento Econômico de Pernambuco. O estaleiro, sem
receber, rompeu contrato com a Sete Brasil e reduziu atividades. Não deu
para evitar o efeito dominó.
As construtoras locais, terceirizadas e até quarteirizadas da Petrobrás,
firmaram contratos com grandes consórcios de empreiteiras acusadas pelo
Ministério Público Federal (MPF) e pela Polícia Federal (PF) de terem
constituído cartel para obter vantagens na contratação de obras em troca
de vultosas propinas para petroleiros e políticos. Quando deixaram de
receber das acusadas na devassa, as firmas pernambucanas viram começar
seu calvário particular.
Depois, a quebradeira atingiu praticamente todos os setores: locadoras
de automóveis e de guindastes, fornecedores de material de segurança e
de limpeza e até pousadas que hospedavam funcionários. Calcula-se que R$
500 milhões pode ser o valor total das dívidas feitas e não pagas com
pequenas e médias empresas pernambucanas por causa da crise da
Petrobrás. Mas ninguém tem certeza das reais dimensões do impacto
negativo local.
Entre os prejudicados, os setores mais organizados são o metal-mecânimo,
que calcula o próprio prejuízo em R$ 50 milhões, e o de fretamento de
ônibus, em R$ 35 milhões. “Menos da metade da propina de um simples
gerente da Petrobrás resolveria o problema de dois setores daqui em
Pernambuco”, ironizou Eduardo Cunha, da Plain, fabricante de estruturas
metálicas, que viu seu galpão se ampliar de 2,5 mil para 8 mil metros
quadrados com as encomendas e esvaziar desde 2013, quando deixou de
receber. Ele se referiu ao ex-gerente da Petrobrás Pedro Barusco, que
declarou, em delação premiada, ter recebido R$ 210 milhões em propinas.
O pesadelo provocado por furto e má gestão na Petrobrás não atingiu
apenas os empresários, que imaginaram incrementar seus negócios na época
das vacas gordas. Um deles, Paulo Rebouças, sócio da MKS, do setor
metal-mecânico, contou: “Hoje a gente vê fornecedores nossos, de
alimentação, gente pequenininha, que têm problemas para conseguir
capital de giro”. O mesmo ocorre com os operários: nos anos dourados de
contratações, o número de trabalhadores no setor metal-mecânico em
Pernambuco passou de 18 mil para 38 mil - 10% de crescimento por ano. No
ano passado, a tendência virou: a retração foi de 9%: mais de 4 mil
postos foram fechados. E o pesadelo
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