editorial do Estadão
O Brasil continuou afundando na estagnação no primeiro trimestre e
precisará de um bom impulso para se livrar do atoleiro. Só o
investimento produtivo poderá dar esse impulso, mas o gasto em máquinas,
equipamentos e construções continuou diminuindo entre janeiro e março. A
redução de 1,3% em relação ao valor investido nos três meses finais do
ano passado foi a sétima queda trimestral consecutiva – mais uma prova
do fracasso, visível há muito tempo, da política industrial e dos
programas de crescimento mantidos no primeiro mandato da presidente
Dilma Rousseff. Se ainda fosse necessário, esses dados confirmariam
também, contra a opinião dos mais otimistas, o baixo nível de confiança
dos empresários na política econômica. Reconquistar essa confiança é a
principal tarefa, a curto prazo, do ministro da Fazenda, Joaquim Levy.
A contração de 0,2% do Produto Interno Bruto (PIB) no primeiro trimestre
foi até mais suave do que haviam estimado muitos economistas do setor
privado. Mas o desastre foi completo e esse é um dos detalhes mais
impressionantes divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE).
Desta vez, nem as despesas familiares e os gastos de governo atenuaram a
queda. O consumo do governo encolheu 1,3% e o das famílias, 1,5% em
relação aos valores do trimestre imediatamente anterior. Com o atraso da
aprovação do Orçamento, a administração federal teve de conter suas
despesas mesmo antes de iniciado o programa de ajuste. Quanto às
famílias, gastaram menos porque sua renda foi erodida pela inflação, as
condições de emprego e salário foram menos favoráveis e o crédito, menos
acessível. A crise bateu, enfim, até na população recém-agregada ao
mercado de consumo. Também isso explica a deterioração da imagem da
presidente logo no começo do segundo mandato.
A queda trimestral do PIB ocorreu depois de um crescimento de 0,3% nos
três meses finais de 2014. Pode-se falar, tecnicamente, de recessão?
Qualquer discussão sobre isso será perda de tempo. Afinal, o PIB do
primeiro trimestre foi 1,6% inferior ao de um ano antes e a variação
acumulada em 12 meses foi uma contração de 0,9%.
Enfim, a informação relevante é toda negativa e ninguém pode apostar
numa recuperação confiável sem um duro trabalho de ajuste nos próximos
meses. Esse trabalho, juntamente com a definição de novos critérios para
a política econômica – incluídas as normas de concessões na área de
infraestrutura –, será fundamental para a retomada do investimento.
O total investido pelos setores público e privado foi 7,8% menor que o
do trimestre inicial de 2014. O valor acumulado em um ano encolheu 6,9%.
Nos primeiros três meses deste ano, equivaleu a 19,7% do PIB. Há um ano
a proporção era 20,3%. Pelo critério anterior das contas nacionais, a
relação era menor, porque gastos em pesquisa, incluída a prospecção de
petróleo, ficavam fora da soma. De toda forma, a taxa de investimento
continua longe dos padrões observados mesmo em países latino-americanos,
superiores, em muitos casos, a 24% do PIB. Na Ásia, as porcentagens são
geralmente maiores.
Sem surpresa, a indústria de transformação se destacou pelo mau
desempenho. Sua produção foi 1,6% menor que a do trimestre final do ano
passado e 7% inferior à de janeiro a março de 2014. Em 12 meses, o recuo
foi de 5,6% na comparação com os 12 meses anteriores. Esses números
atestam de novo a falência da política dos últimos seis anos –
prioridade ao consumo, estímulos fiscais e financeiros a setores e
grupos escolhidos e protecionismo.
Os números do comércio exterior, com a exportação de manufaturados
caindo seguidamente e a indústria perdendo espaço até no mercado
interno, atestam a erosão da competitividade, iniciada há vários anos.
Produtividade e competitividade estão na pauta anunciada e repetida nos
últimos meses pelo ministro da Fazenda. Não se atingirão esses objetivos
com fórmulas admissíveis nas primeiras fases da industrialização, mas
esgotadas há muito tempo e abandonadas por outros emergentes, mas
revalorizadas pelos governos petistas – sem êxito, como mostram os
números do PIB.
extraídaderota2014blogspot
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