editorial do Estadão
Documento interno da corrente do PT da qual Lula é o mandachuva, a ser
apresentado no Congresso do partido que se reúne este mês em Salvador,
proclama: “Não se pode fazer da necessidade de sanear a situação fiscal a
ocasião para a apologia de uma política econômica conservadora, cujas
consequências bem conhecemos”. A crise em que o projeto de poder de Lula
mergulhou o País sugere, porém, que a forma mais adequada de colocar a
questão é outra: não se pode fazer da necessidade de defender conquistas
sociais a ocasião para a apologia de uma política econômica populista e
irresponsável cujas consequências, que bem conhecemos, é o
empobrecimento geral.
Não passam de pura encenação e de mero jogo de disputa de poder os
arreganhos dos lulopetistas contra o projeto de ajuste fiscal
coordenado, em nome da presidente da República, pelo ministro Joaquim
Levy. Ninguém no PT ignora que o futuro do partido depende da capacidade
do governo, pelo qual o partido é responsável, de corrigir os próprios
erros para promover a recuperação da economia e a retomada do
crescimento, condição essencial à garantia e ampliação de conquistas
sociais. Ninguém, no PT de Lula, ignora que a gravidade da situação
exige o remédio amargo do corte de despesas e aumento de taxas e
tributos, agora, indispensáveis para o saneamento das contas públicas.
Ninguém no PT de Lula – como, de resto, todos os brasileiros, à exceção
talvez da militância acrítica e da massa sindical manipulada – ignora
que o ajuste fiscal exige sacrifícios do conjunto da sociedade e não
apenas dos mais pobres, embora seja sensato e justo cuidar para que o
impacto sobre estes últimos seja o menor possível.
Mas o lulopetismo está comprometido, muito mais do que com a defesa de
causas populares das quais se proclama patrono exclusivo, com sua
própria ambição de permanecer no poder a qualquer custo. Por isso não se
peja de, sendo o partido do governo, posar de opositor às medidas que o
governo propõe para tirar o País do buraco no qual o lançou.
A estratégia lulopetista consiste em atacar Joaquim Levy, o “mão de
tesoura”, o “neoliberal”, o “representante dos banqueiros”, na tentativa
de vê-lo substituído pelo ministro do Planejamento, Nelson Barbosa,
antigo e competente membro do quadro petista, saudado como
“desenvolvimentista”. Supondo que Dilma Rousseff se deixe pressionar a
ponto de promover essa troca, o que ocorrerá? Nelson Barbosa vai rasgar o
programa de ajuste fiscal que ajudou Levy a elaborar e está ajudando a
implantar, independentemente de eventuais divergências pontuais com o
parceiro? Dilma Rousseff, que claramente apoia o trabalho que seu
ministro da Fazenda desenvolve em seu nome, vai pedir desculpas ao PT e
abandonar a “política econômica conservadora”?
Se o comando da equipe econômica viesse a ser assumido por alguém
indicado pelo PT – na hipótese aparentemente improvável de que, por
qualquer razão, Joaquim Levy deixasse o cargo –, é difícil de acreditar
que, no essencial, alguma coisa mudasse. O discurso oficial seria
certamente “adaptado” às tradicionais bandeiras petistas, mas o programa
de ajuste permaneceria basicamente o mesmo, por absoluta falta de
alternativa. E, docemente constrangidos, os petistas assumiriam a mesma
postura pragmática que adotaram no primeiro mandato de Lula, quando as
bases para seu ambicioso programa social foram garantidas pela estrita
observância dos fundamentos do Plano Real e Lula e o PT faturaram alto
com os resultados obtidos.
De qualquer modo, um problema sério estaria criado. Quando nomeou
Joaquim Levy, a presidente da República tinha em mente a intenção de
conquistar a confiança e o apoio do mercado para o desafio de recolocar o
País na trilha do crescimento. É certo que os agentes financeiros e
econômicos, daqui e de fora, considerariam uma eventual reviravolta
dessa natureza um retrocesso definitivamente comprometedor da
credibilidade do governo Dilma.
Aos trancos e barrancos o governo tem conseguido aprovar no Congresso as
propostas para o reajuste fiscal. Se tudo der certo, todos ganham,
inclusive o PT. Mas Lula continua pescando em águas turvas para poder
botar em Dilma a culpa de tudo o que der errado.
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