Com Blog Ricardo Setti - Veja Carlos Brickmann
Dizem que, quando Maria Antonieta, rainha da França, soube que o povo se revoltava pela falta de pão, perguntou: “E por que não comem brioches?”
Pouco tempo depois, perdeu o trono, a liberdade e a vida.
Os poderosos se isolam e não entendem por que, quando não há comida em
casa, os pobres não almoçam num bom restaurante. Nas manifestações,
ficou clara a rejeição a tudo isso que está aí. E como reagem nossos
poderosos?
A Petrobras, em crise, propõe o aumento do salário de seus diretores em
13%, para algo como R$ 123 mil mensais. Pode ser pouco diante do que se
paga em empresas do mesmo porte; mas, diante da situação, parece
deboche. No ano passado, os salários da diretoria já haviam subido 18%,
contra 6,4% de inflação.
O Supremo Tribunal Federal cancelou todas as sessões nesta semana. Com
isso, o inquérito sobre Jader Barbalho, por peculato, acabou. Está
prescrito.
A Câmara Federal nomeou quatro deputados para visitar o então ministro da Educação, Cid Gomes, no Hospital Sírio-Libanês.
Suas Excelências iriam conferir a avaliação médica do Dr. Roberto Kalil. Custo: R$ 6.500.
Não é muito? Talvez.
Mas qual a utilidade do passeio?
Provar que um dos melhores hospitais do país estava errado? Que é que o
deputado André Fufuca entende disso? E quem é que disse que se pode
visitar um paciente sem autorização dele e do médico?
Lula, que, solidário, manteve os condenados do Mensalão no PT, disse:
“Hoje, se tem um brasileiro indignado sou eu, indignado com a
corrupção.”
Pois é.
Ninguém me ama
Talvez nesse profundo desprezo pela opinião pública – que, diga-se, não é
exclusivo da presidente – esteja a raiz da rápida queda da popularidade
de Dilma. Datafolha e Ibope encontraram números parecidos: 12% aprovam
seu Governo, 64% o reprovam.
É muita genta contra! E 74% não confiam na presidente.
O distrital ajudaria a resolver, mas…
Seja qual for a opinião do caro leitor sobre as manifestações, uma coisa
é certa: ninguém gritou lemas em favor da reforma política ou do
financiamento público de campanhas eleitorais.
O povo pode ser surpreendentemente sábio: a principal fonte de corrupção
das campanhas não é o financiamento público ou privado (o
primeiro-ministro alemão Helmut Kohl caiu quando descobriram que
recebia, além do financiamento público de lei, farto financiamento
privado em caixa 2). O problema é o custo das campanhas.
Num Estado como São Paulo, um candidato a deputado estadual sem núcleo
fixo de eleitores vai gastar uns dois ou três milhões de dólares,
percorrendo 645 municípios. Tem de buscar esses recursos em algum lugar;
e quem o auxilia não o faz por puro espírito público.
A solução é criar algum tipo de voto distrital, em que as campanhas
sejam feitas em regiões menores, onde o candidato já seja conhecido, a
custo bem mais baixo. É difícil? É: os atuais parlamentares se elegeram
pelo sistema atual. Por que irão mudá-lo, para correr o risco de
enfrentar campanhas mais difíceis?
EXTRAÍDADOBLOGROTA2014





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