João Gualberto Jr. O Tempo
“Progredir
sempre, tal é a lei”, menos para a Assembleia Legislativa. A Casa do
povo mineiro reencarna o famoso vaticínio de Ulysses Guimarães: quando
reclamavam da má qualidade de uma legislatura, ele alertava que a
seguinte seria ainda pior. Dito e feito. Em 2013, a Mesa da Assembleia
mineira extinguiu a mamata do auxílio-moradia para os nobres
parlamentares após uma série de questionamentos publicados especialmente
por O Tempo. Bastava uma conferida por cima nas declarações de
patrimônio prestadas à Justiça Eleitoral para atestar que muitos dos
beneficiados pelo penduricalho eram donos de imóveis em Belo Horizonte.
Visto que não se tratavam de barracos dependurados em algum aglomerado e
que o ordenado pago aos representantes superava em boa monta o valor do
salário mínimo, decidiu-se pelo fim da bolsa-aluguel.
Essa foi a escora racional do discurso. Claro que o que se queria era
fazer bonito para a plateia. O então presidente da Assembleia, Dinis
Pinheiro (PR), concorreria no ano seguinte a vice-governador e, em 2013,
ainda era cotado como pré-candidato a governador e senador. Ficaria bem
para ele colar à própria imagem o papel de gestor moralizador atento às
tais “vozes das ruas”. Pois chegou 2015, as vozes se calaram, e a
eleição passou.
O peemedebista Adalclever Lopes foi candidato único para o comando da
Mesa nesta nova Assembleia. Foi ungido por um consenso surpreendente
para um plenário que promete sediar debates quentes. Agradou de petistas
a tucanos, de pastores a representantes de movimentos sociais, de
delegados a réus.
Já na primeira sessão, após a instalação da legislatura, no domingo,
1º de fevereiro, Adalclever e seus colegas de diretoria decidiram abrir a
“caixa de Pandora” da história. Ressuscitaram o auxílio-moradia e outra
atrocidade a ser descrita abaixo. Ora, está claro de onde nasceu o
consenso em torno da chapa única, afinal, a imoralidade segue como
denominador comum mesmo nos ambientes mais ecléticos.
SÓ QUATRO FORAM CONTRA
Justiça seja feita a Ione Pinheiro (DEM, irmã de Dinis), Jean Freire
(PT), João Leite (PSDB) e Marília Campos (PT), que votaram contra a
medida de flagrante retrocesso, em primeiro turno. O segundo turno pode
ocorrer hoje, e a pressão existe, ainda que tímida. Na plataforma Avaaz
foi criado um abaixo-assinado pelo não retorno da bolsa-aluguel, que
seria mensal, de R$ 2.850 por deputado.
Na mesma sessão, na semana passada, foi aprovado outro absurdo: o
deputado que se licenciar da cadeira para assumir, por exemplo, uma
secretaria de Estado, pode continuar a receber os R$ 20 mil mensais a
que cada gabinete tem direito para sua manutenção, a chamada verba
indenizatória. Essa mamata é tanto ou mais injustificável do que a
primeira. O auxílio-moradia e o recebimento da verba de gabinete para o
licenciado são facultativos. Mas quem teria a coragem de dizer não?
Cidadão mineiro, cuide de limpar o seu quintal com o mesmo ímpeto com
que se interessa pelos desmandos de Brasília. Que tal mandar agora um
e-mail desaforado para seu deputado estadual?
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