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09:11
ANDRADEJRJOR
REINALDO AZEVEDO FOLHA DE SÃO PAULO

Valentias de moribundo são um espetáculo melancólico. O PT era uma neurose. Agora é só uma necrose moral
Não
disputo o poder e, para mim, ganhe este ou aquele, a vida segue a
mesma. Os petralhas ainda não conseguiram a minha cabeça na bandeja,
rodeada de cerejas e com uma maçã na boca, embora já tenham tentado
algumas vezes. Gostam de propor trocas indecorosas aos contratantes, até
agora rejeitadas.
Pouco afeitos ao trabalho duro, os
companheiros ignoram que tenho outras habilidades além de juntar
coordenadas e subordinadas. E nenhuma delas é executada de joelhos ou
depende de patrocínio da Petrobras ou de estatais que virarão, cedo ou
tarde, caso de polícia.
E porque não disputo o poder, a irritação
ou o gozo que me provocam a política são, vá lá, puramente
intelectuais. E, ora vejam, vou me irritando ou gozando cada vez menos
com ela. Para que algo excite a nossa imaginação, é preciso haver
"encantamento", palavra oriunda do mesmo manancial semântico de que vêm o
canto e o poema. Pesquisem. Irrita-se aquele que se deixa estimular,
excitar, que se sente instigado. Encantamento e irritação são expressões
benignas de importar-se.
No meu próximo artigo, defendo o
impeachment da Dilma. Neste, permitam-me que expresse o tédio que essa
gente provoca em mim. O tédio é parente do ódio, mas se trata de uma
aversão mais contida, mais serena, mais preguiçosa. E me enfadam menos
os donos do poder, que estão por aí tentando achar uma saída, uma
desculpa, uma trilha culposa que os livre do dolo e da cadeia, do que
seus escribas.
É possível que alguns estejam apenas ganhando a
vida --fazer o quê? Essa profissão existe, e eu defendo que seja
regulamentada. Mas há também, e são ainda mais patéticos, os que
emprestam a sua pena à justificação da bandalheira de olho apenas no
soldo moral. Não querem se confundir com os reacionários, ainda que
possam se confundir com ladrões. Escolhas morais.
De novo, para
surpresa de ninguém, está na praça a tese do suposto confronto entre
"conservadores e progressistas", entre "golpistas e legalistas", entre
"nós e eles". E alguns articulistas se prestam ao triste papel de tingir
o nariz de marrom. Rui Falcão descobriu que queremos mesmo, os maus, é
privatizar a Petrobras, acabar com o regime de partilha e pôr um fim à
política de conteúdo nacional --aquela que já provocou um edificante
rombo de R$ 20 bilhões. Em nome do povo! Por isso o seu partido
denunciou, numa resolução, a conspiração da direita e aproveitou para
pregar o controle da "mídia".
José Eduardo Cardozo, que ficou
mais magro com uma dieta argentina, mas nem por isso passou a ter ideias
mais severas --não leu Musil...--, acha que não se deve usar a
roubalheira na Petrobras para disputar um terceiro turno. Segundo diz,
só pessoas com "problema psicológico" defendem o impeachment de Dilma.
Tá.
Ele cansou de usar o direito como argumento. Perde! Prefere
mandar o oponente para o hospício. É uma tradição da escola de
pensamento da qual é oriundo. Este senhor tem ideias originais sobre
investigação de atos petistas desde o caso Lubeca, que já tem quase 30
anos. Era o ovo da serpente.
Os companheiros ainda não perceberam
que sua organização começou a morrer. As valentias de um moribundo são
sempre um espetáculo melancólico. Quer falar de psicologia, Cardozo? O
PT era uma neurose. Agora é só uma necrose moral.
FONTE AVARANDABLOGSPOT
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