Ruy Castro FOLHA DE SÃO PAULO
Os números são alucinantes. Um ex-diretor da Petrobras recebeu R$ 50 mil
por semana durante meses para facilitar certos negócios. Outro "aceitou
devolver" US$ 97 milhões que levara de suborno. Um terceiro afirma que,
em dez anos até 2013, o PT recebeu cerca de US$ 200 milhões em propina.
E, pelo que a Operação Lava Jato já levantou, estima-se que o petrolão
tenha desviado um total de R$ 10 bilhões.
O dinheiro virou uma abstração. Vários zeros surgem de repente à direita
de um número, e ninguém se espanta. Certas notícias têm de ser lidas
duas vezes para se saber se estão falando de milhões ou bilhões, de
dólares ou reais. E, quando se estoura um escritório, o dinheiro vivo
encontrado nas gavetas só pode ser contado por uma máquina bancária.
Enquanto isso, as verbas para a educação, a saúde e a segurança sofrem
cortes cruéis.
Fico imaginando o que tanto dinheiro representaria para o mais humilde
dos orçamentos: o da Cultura. Permitiria abrir centenas de bibliotecas,
conservar as existentes, equipá-las com ar-condicionado, formar equipes
de restauração e ampliar programas de digitalização. Permitiria também
comprar acervos e coleções, para evitar que, com a falência ou morte de
seus titulares, acabem vendidos a retalho nas feiras de antiguidades.
Conservar o patrimônio histórico, tombar novos sítios, proteger a
identidade cultural de ruas e bairros, recuperar prédios ameaçados de
cair e salvar recheios de casas que contam a história do povo
brasileiro. O mesmo quanto aos museus, alguns dos quais, hoje, não têm
verba para material de limpeza. Patrocinar sinfônicas e balés, construir
salas onde eles sejam apreciados e estimular a formação de jovens
profissionais. Etc. etc. etc.
É indescritível o que somaria ao país uma simples fração do dinheiro que esses malandros subtraíram.
FONTE ROTA2014





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