por Vinícius Mota folha de são paulo
A crise da Petrobras é tão violenta e multifacetada que fica difícil
enxergar a ponta do fio capaz de resgatá-la do enrosco. Corrupção,
colapso administrativo, ineficiência e incompetência se misturam e se
reforçam. Deixam ruínas bilionárias pelo caminho e engolfam a estatal em
descrédito e zombaria.
A catarse na empresa ajuda a tirar o foco das decisões que, no âmbito do
Executivo e do Legislativo, foram responsáveis pela gênese do monstro.
Trata-se do projeto de erigir no Brasil um Estado paralelo, organizador
de interesses políticos e empresarias, chamado Petrobras.
Os artífices desse programa anularam o vetor que desde os anos 1990
mitigava a vocação monopolista da empresa. Impuseram-na como operadora
dos campos do pré-sal. Obrigaram-na a adquirir no Brasil toda sorte de
equipamentos e insumos de exploração. Determinaram uma expansão de
gastos e investimentos de dar inveja a faraós do passado e xeques do
presente.
Não se impute apenas ao PT de Lula e Dilma a responsabilidade pelo
portento. A massa de partidos indistintos que provê maioria no Congresso
sempre esteve à procura de um manancial de cargos, verbas e contratos
dessas proporções. Um conjunto significativo de empresas também lambeu
os beiços diante do butim.
Era a própria democracia que esse consórcio predava com sua criatura
tentacular. O jogo do grande poder e do dinheiro grosso se desviava dos
trâmites institucionais, tomava um atalho nas trevas dos gabinetes e
conspurcava a Constituição.
Mas a República reagiu. Polícia, Tribunal de Contas, Procuradoria,
Justiça, opinião pública, imprensa livre e instituições de mercado
conseguiram resistir a esse titã do autoritarismo e da ineficiência. Na
semana passada, a ainda presidente da Petrobras admitiu que a estatal
encolherá bastante. Num início de ano cheio de notícias ruins, há algo
para comemorar.
fonte rota2014
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