Fernando Nunes e Antonio Pita - Exame
O valor de mercado da Petrobras minguou em R$ 150 bilhões, ou 58%, quase à metade, desde outubro, data reiteradamente relembrada pela presidente da empresa, Graça Foster.
Naquele mês, a diretoria da empresa teve acesso aos depoimentos de Paulo
Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento, e descobriu que cada
projeto liderado por ele foi superfaturado em 3%, propina paga ao
ex-funcionário por um cartel de fornecedores também investigados na Operação Lava Jato.
O cenário foi ainda agravado na sexta-feira, depois que a agência de
classificação de risco Moody's rebaixou a nota da Petrobras de Baa2 para
Baa3.
A última semana foi marcada por baixas sucessivas do valor de mercado da
petroleira. O auge ocorreu na quarta-feira, quando, por volta das 4h da
madrugada, o mercado tomou conhecimento de que R$ 88,6 bilhões do
patrimônio, de um total R$ 597 bilhões, estão mal dimensionados - a
maioria, superestimado.
Consultorias independentes contratadas pela petroleira recomendaram uma
baixa contábil de R$ 61,4 bilhões, mas nem todo esse valor diz respeito à
corrupção. Há também um efeito de ineficiência de gestão, entre outras
fragilidades.
Na fatídica quarta-feira, a perda de valor de mercado foi de R$ 14
bilhões e, por fim, na sexta-feira, quando a Moody's rebaixou a nota da
petroleira, foram mais R$ 6,94 bilhões.
Ainda em outubro, quando tomou conhecimento da dimensão do rombo da
corrupção no patrimônio, a diretoria da Petrobras passou a lidar com
outro fato de forte impacto no seu caixa: o preço do barril de petróleo
iniciou uma trajetória de queda, despencando de US$ 100 para US$ 50 em
cerca de três meses.
O adiamento da divulgação do balanço financeiro relativo ao terceiro
trimestre do ano passado por duas vezes agravou ainda mais a crise. Se
considerado esse marco, a perda do valor de mercado até sexta-feira é de
44%, superior a R$ 57 bilhões.
Grau de investimento
O valor de mercado não é a principal preocupação da empresa. Segundo
fonte ligada à cúpula da estatal, a grande preocupação dos conselheiros
na reunião de terça-feira, era evitar a perda do grau de investimento,
selo concedido pelas agências de classificação de risco às companhias de
capital aberto de "primeira linha". Com esse selo, a Petrobras obtém
acesso a grandes investidores, como fundos de pensão no exterior.
Os conselheiros consideraram que, se adotassem a baixa contábil de R$
61,4 bilhões, a relação entre o endividamento e o patrimônio líquido, o
nível de alavancagem, daria um salto. Com isso, os investidores
perceberiam que a empresa está muito endividada, sem capacidade de
investir, e não seria um bom negócio investir numa empresa com esse
perfil de caixa.
O resultado não auditado do terceiro trimestre de 2014, divulgado na
quarta-feira, trouxe uma relação entre endividamento e patrimônio de
43%. A meta da empresa é alcançar o nível máximo de 35%. No esforço de
evitar a elevação da alavancagem, a Petrobras se comprometeu a não
contrair nova dívida.
O professor do Insper e diretor da consultoria M2M, Eric Barreto, avalia
que, sem a baixa contábil da corrupção, a situação da Petrobras não é
das melhores. O nível de dependência do dinheiro de terceiros onerado
por juros, tecnicamente denominado "recursos onerosos", é de 40%. Com a
baixa contábil, pularia para 43%, como demonstra estudo elaborado por
Barreto para o Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado.
A situação da Petrobras, nesse ponto, é "preocupante", avalia o
especialista, e pior que a de concorrentes como BP, Chevron, Shell e
Exxon, segundo o estudo. Para cada R$ 1 do patrimônio da empresa, R$
0,74 estão comprometidos com dívidas onerosas. Ou seja, o índice é de
0,74. Com uma baixa de R$ 61,4 bilhões dos ativos, passaria para 0,90,
bastante acima do registrado, em média, pelas rivais da estatal, cujo
índice é 0,20.
O que diferencia a Petrobras das demais, explica Barreto, é que a
petroleira brasileira costuma recorrer a bancos e ao mercado de capitais
para se financiar, pagando altos juros, enquanto as outras são
financiadas, em sua maioria, pelos fornecedores. Elas estabelecem prazos
mais longos de pagamento por bens e serviços contratados. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo
FONTE ROTA2014
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