Acílio Lara Resende
Mas ainda chocado com a vergonhosa roubalheira que há anos vem ocorrendo na Petrobras, nossa maior empresa e outrora objeto de orgulho de todos os brasileiros, fui pego por duas barbáries. A primeira: o ataque terrorista ao semanário satírico “Charlie Hebdo”, em Paris, que provocou mortes e feridos. A segunda: a execução do brasileiro Marco Archer, preso e condenado à morte pelo crime de tráfico de drogas na Indonésia, que a partir de 2004 se transformou em República e, pela primeira vez, elegeu um presidente.
Lá condenam estrangeiros, mas pedem clemência para uma conterrânea que roubou e matou sua patroa na Arábia Saudita. Não nos esqueçamos de que a Indonésia é um país violento, com muitas manchas de sangue em sua história. O general Suharto, quando tomou pela força o poder, executou 1 milhão de comunistas. Agora, o atual governo (eleito pelo voto) acha que matando traficantes acaba com o tráfico de drogas…
MAIS UMA BARBÁRIE
E o pior é que uma terceira barbárie está prestes a se concretizar: a execução de outro brasileiro, Rodrigo Gularte, com diagnóstico de esquizofrenia, preso há 11 anos e igualmente condenado à mesma pena na Indonésia e pelo mesmo crime de Marco Archer. Na semana passada, o Ministério das Relações Exteriores confirmou que o pedido de clemência feito pelo governo brasileiro foi infelizmente negado.
Sempre fui contra a pena de morte e sei que hoje, quando o tráfico de drogas mata sem dó nem piedade, quando morrem crianças vítimas de bala perdida ou quando jovens são assassinados pela polícia, não é fácil pensar assim. Mas a pena de morte, e sem falar na sua verdadeira função, nunca contribuiu para diminuir a criminalidade. É barbárie pura, repito!
No Brasil, se transformaria em vingança contra o pobre, o negro, os desvalidos, o adversário político etc. A Universidade de Michigan chegou à conclusão de que, em cada 25 executados, há um inocente! Ninguém, nenhum juiz, nenhum Estado, nenhum tribunal, detém a verdade, nem é perfeito, como se fosse Deus. Como dar-lhes, então, o direito de decidir sobre a vida e a morte de um ser humano?
LIBERDADE DE EXPRESSÃO
Voltemos à chacina no jornal “Charlie Hebdo”. Devo ser sucinto, pois tudo, a favor ou contra, já foi dito e repetido. Um horror, sem nenhuma dúvida! Uma tragédia! Não conhecia o jornal ou apenas o conhecia “de orelha”, e, como eu, quase ninguém sabia da sua existência, no Brasil e em outras partes do mundo, apesar dos seus conhecidos chargistas. De uma tiragem de 45 mil exemplares passou a 6 milhões ou 7 milhões depois do atentado, na edição que se seguiu à matança.
Não há, pois, como “não ser Charlie Hebdo”, ainda que sejam ofensivas ou de péssimo gosto algumas das suas charges. A liberdade de expressão é tão importante quanto a vida. Contra os que abusam dela, há a Justiça. Ou será que perdemos a fé na Justiça? O extremismo só acredita na sua verdade! (transcrito de O Tempo)
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