EDITORIAL DO ESTADÃO
Apesar do mantra do governo de Dilma Rousseff de que a política
econômica do seu primeiro mandato privilegiou o emprego, os números
consolidados do ano passado mostram outra realidade. Em 2014, o País
teve a menor taxa de criação de empregos formais dos 12 anos de petismo
no governo federal. E o governo Dilma fica ainda pior na foto quando se
olha não apenas a quantidade, mas a qualidade dos empregos criados. Há
um bom tempo os empregos na indústria - setor que reúne os postos de
melhor qualificação - vêm diminuindo, o que manifesta uma não pequena
deterioração do mercado de trabalho brasileiro. Esse quadro é
consequência direta da política econômica dos últimos quatro anos, que -
com os seus contínuos erros - levou o País à estagnação econômica. E,
apesar da retórica governista, sem crescimento não há emprego.
Segundo o Ministério do Trabalho e Emprego, ao longo de 2014, foram
gerados 397 mil postos de trabalho. Esse número, que reflete um
desempenho 64,5% inferior ao do ano de 2013, é o pior resultado da série
histórica, iniciada em 2002. Na pesquisa divulgada pelo Ministério do
Trabalho destaca-se ainda a queda de empregos na indústria. No mês de
dezembro foram fechadas 172 mil vagas no setor de transformação,
acarretando um saldo negativo no ano de 164 mil postos.
O resultado da criação de vagas com carteira assinada em 2014 indica
também, mais uma vez, a incapacidade do governo de Dilma Rousseff em
cumprir o prometido. No início do ano passado, o ministro do Trabalho,
Manoel Dias, havia anunciado que, em 2014, seria criado 1,5 milhão de
vagas.
Diante da enorme diferença entre o previsto e o que realmente ocorreu, o
ministro Manoel Dias culpou a Copa e as eleições: "Houve uma campanha
de que a Copa do Mundo não seria realizada, o que gera uma insegurança e
retrai o investidor. (...) Também tivemos eleições acirradas, que
criaram uma ideia de que o Brasil vivia numa crise, estava quebrando".
Pena que essas supostas causas - as datas das eleições e da Copa estavam
marcadas há anos - não esclareçam em nada o que ocorreu no fim do ano,
quando o País já havia passado por aqueles eventos. Em dezembro de 2014,
o mercado de trabalho registrou um encolhimento de 555 mil vagas. Foi
nada mais nada menos que o pior resultado desde 2008.
As causas da crise no emprego não estão na Copa do Mundo nem nas
eleições - e sim na política econômica do governo de Dilma Rousseff.
Infelizmente, a presidente tem sérias dificuldades em ver com
objetividade a economia e, por consequência, os efeitos sociais da
economia. Não há uma dicotomia entre economia e emprego, como parece
sugerir a ideologia da sra. Dilma Rousseff. Não existe preocupação com o
trabalhador quando se descuida da situação econômica do País - melhor
dito, quando se despreza essa situação.
E há desprezo pela economia quando se abandona a realidade e se parte
para o voluntarismo, com ações desconexas e contraditórias, que são ao
fim e ao cabo ineficazes. A ideologia petista - que simplifica e, assim,
distorce a realidade - é incapaz de ver a economia em toda sua
complexidade. Prova dessa cegueira é a ilusão de achar, por exemplo, que
uma menor transparência na situação das contas públicas - ou uma
política que falsifica o preço real dos bens e serviços, mantendo-os
administrados - poderia contribuir em algo para a economia do País.
Os dados do emprego em 2014 comprovam - parafraseando o ditado popular -
que a economia não aceita desaforo. E os erros econômicos têm um alto
custo social, tanto pela inflação quanto pelo emprego.
O trabalhador brasileiro - que, ao se tornar mais vulnerável diante da
piora qualitativa e quantitativa da situação do mercado de trabalho no
País, sente na pele os danos da ideologia petista - espera ao menos que a
presidente Dilma Rousseff possa aprender com os últimos quatro anos e
não repita os mesmos erros. Caso contrário, já não se poderia dizer que o
governo erra por simples cegueira ideológica. Daria a impressão de que é
por pura e simples perversidade.
FONTE ROTA2014





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