EDITORIAL O GLOBO
Ao se começar a desvendar o esquema de corrupção na Petrobras, caiu por terra a defesa
desse negócio
Frente às informações sobre a estranha compra de uma refinaria em
Pasadena, no Texas, pela Petrobras, cujo preço final ultrapassou o
bilhão de dólares, bem mais que o antigo dono pagara para adquiri-la, o
comportamento da direção da estatal foi o clássico: negar e garantir que
o negócio havia sido um sucesso.
Até que a própria presidente Dilma, na fase de esquentamento para a
campanha eleitoral — e talvez por isso — respondeu, por escrito, a
perguntas do jornal “O Estado de S. Paulo” sobre Pasadena, e resolveu
ser clara: como presidente do Conselho de Administração da estatal,
antes de eleger-se em 2010, ela e demais conselheiros aprovaram a
operação com base num parecer “técnica e juridicamente falho”, redigido
pela diretoria Internacional da empresa. Interessados em fazer com que
aquele caso fosse esquecido, como alguns diretores que estavam na
Petrobras à época e políticos padrinhos de altos funcionários da
estatal, não puderam mais controlar o assunto. O gênio escapou da
garrafa.
Por meio de duas CPIs e em comissões ordinárias, o Congresso passou a
ouvir esses dirigentes e a atual presidente, Graça Foster. Apesar de
todo o controle que a base aliada exerce na Câmara e no Senado, sempre
escapam informações elucidativas. Graça Foster, por exemplo, revelou que
a estatal já havia contabilizado em balanço uma perda patrimonial de
meio bilhão de dólares causada pelo passo mal dado com essa refinaria.
Demoliam-se argumentos como o de que as oscilações do mercado
internacional justificariam tudo. Afinal, uma grande perda já havia sido
contabilizada. Avolumaram-se, então, as suspeitas sobre o papel do
então diretor Internacional da Petrobras, Nestor Ceveró, na compra de
Pasadena, ele o responsável pelo documento “técnica e juridicamente
falho”
A confirmação de que Pasadena foi uma das gazuas usadas pelo maior
esquema de corrupção de que se tem notícia na vida pública brasileira
para saquear cofres públicos veio da Operação Lava-Jato, conduzida pela
Polícia Federal, Ministério Público e Justiça Federal do Paraná. A
investigação de um bilionário sistema de lavagem de dinheiro gerenciado
pelo doleiro Alberto Youssef — ele já aparecera no escândalo da remessa
ilegal de dinheiro pelo Banestado, no mensalão e num caso de pagamento
de propinas de empreiteiras a políticos — revelou enorme conexão entre
empreiteiras, altos funcionários da Petrobras e políticos,
principalmente do PT, do PMDB e do PP.
Preso, depois de Youssef, e, como este, depoente no processo sob o
regime de delação, um companheiro de diretoria de Cerveró, Paulo Roberto
Costa, da área de Abastecimento, afirmou que recebeu US$ 1,5 milhão
apenas para “não atrapalhar” a compra da refinaria — apelidada por
técnicos da estatal de “ruivinha”, por ter muitos equipamentos
enferrujados.
Já se tem certeza de que aquele negócio foi mais uma das falcatruas do
esquema montado na estatal a partir do aparelhamento lulopetista da
empresa. Mas ainda é preciso detalhar esta história e processar os
responsáveis.
FONTE ROTA2014
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