AUGUSTO NUNES - DIRETO AO PONTO
A prisão de José Sócrates, primeiro-ministro de Portugal durante seis anos, foi recebida por Dilma Rousseff com a placidez de quem desconfiava desde março de 2011 que o amigo do peito de Lula é capaz de tudo. Capaz até de abandonar o emprego sem aviso prévio e sem dar satisfações à presidente prestes a embarcar para uma visita oficial a Lisboa, expondo a convidada ao risco de esperar sentada no aeroporto o anfitrião que sumiu.
Em pouco mais de um minuto, o vídeo do Implicante mostra o que se passa numa cabeça baldia assaltada por essa sensação de orfandade. Trata-se de uma das melhores/piores performances de Dilma. Já na largada da conversa numa sala do Palácio da Alvorada, o jornalista Miguel Sousa Tavares surpreende a presidente que ainda decorava os nomes dos ministros com a informação que precede a pergunta:
— A senhora vai a Portugal terça-feira e vai encontrar um país sem governo. Isso não tira sentido à visita diplomática, pelo menos?
O vinco vertical no meio da testa realça a espécie de perplexidade exibida por todo cachorro que cai de um caminhão de mudança.
— Mas… o presidente num… não vai podê me recebê? — gagueja a resposta que transforma o entrevistador em entrevistado.
Competente, tarimbado, Tavares contém o riso e tenta disfarçar o espanto. Acaba de descobrir que a presidente brasileira não sabe que Portugal vive uma crise política de bom tamanho, agravada naquele dia pelo pedido de demissão do primeiro-ministro José Sócrates. Também percebe que Dilma também não faz a menor ideia de como funciona o regime parlamentarista. O presidente vai recebê-la, esclarece em tom compassivo. O problema, reitera, é que um país com um governante demissionário é o mesmo que um país sem governo.
— Bem, eu respeito perfeitamente a situação política de Portugal — rende-se Dilma antes de confessar que de nada sabia. Mas, assim que aquela entrevista terminar, vai querer saber por que por que não ficara sabendo, avisam a voz e o olhar a voz de quem prepara um “meu querido” para o primeiro assessor que aparecer pela proa.
— Isso foi agora, né? — confere.
Ouve a confirmação, engorda o besteirol com um punhado de palavras e aproveita a oportunidade para despedir-se publicamente do demissionário.
— Eu lamento profundamente, porque tinha um grande respeito pelo ministro Sócrates.
A transferência do hóspede de hotéis estrelados para uma cadeia desprovida de luxo aumentou ou diminuiu o “grande respeito” devotado ao companheiro promovido a escroque internacional? Pelos critérios do lulopetismo, anotações no prontuário costumam melhorar a posição no ranking dos bandidos de estimação do chefe da seita. Mas as cifras recordistas registradas neste fim de ano ameaçam Sócrates: se o dinheiro que tungou for confrontado com a roubalheira do Petrolão, pode acabar escalado no time dos trombadinhas.
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