Tribunal de Contas da União abre frentes de fiscalização das parcerias entre a Eletrobrás e empresas envolvidas na Lava Jato
FERNANDA NUNES ESTADÃO
Construtoras investigadas na Operação Lava Jato, da Polícia Federal, por
suspeita de desvios e outros crimes na Petrobras agora são alvo de nova
investigação em negócios fechados com estatais.
O Tribunal de Contas da União (TCU) está de olho em Sociedades de
Propósito Específico (SPE) formadas pelo grupo Eletrobrás em parceria
com companhias de engenharia. Apesar da participação estatal nessas
sociedades, elas funcionam como empresas privadas.
Por isso, o TCU só consegue fiscalizar os gastos realizados pelas
empresas públicas nas sociedades, sem ter acesso a informações centrais
do negócio.
A investigação dessas SPEs da Eletrobrás é tida como uma prioridade pela
corte de contas. Em acórdão no qual estabelece as principais
fragilidades da estatal, ainda de 2011, o TCU destaca "a má gestão dos
recursos públicos aplicados por meio de Sociedades de Propósito
Específico". No documento, ao qual o Broadcast, serviço de informação em
tempo real da Agência Estado, teve acesso, o tribunal ressalta ainda "a
falta de transparência na gestão de tais recursos".
"Quanto menos fiscalizado, mais o negócio é passível de irregularidade",
afirmou o ex-ministro do tribunal José Jorge. Ele era o relator das
investigações, mas se aposentou em novembro compulsoriamente, após
completar 70 anos.
Neste ano, o TCU abriu duas frentes de fiscalização das Sociedades de
Propósito Específico da Eletrobrás. Primeiro, determinou à
Controladoria-Geral da União (CGU) que, ao analisar as contas do grupo
de 2013, avalie com lupa essas empresas. O próprio TCU está realizando
uma investigação detalhada dos negócios de Furnas em sociedade com
construtoras. Ao todo, a Eletrobrás investiu R$ 9,7 bilhões nos últimos
cinco anos em projetos geridos por esse tipo de figura jurídica, segundo
o relatório financeiro da empresa de 2013.
Negócios específicos. As SPEs são um modelo de negócio no qual duas ou
mais empresas unem recursos e tecnologia em torno de uma nova
personalidade jurídica para desenvolver negócios específicos. Essas
empresas têm características e obrigações próprias, independentemente
dos seus sócios.
Furnas, por exemplo, possui 76 negócios do tipo - de um total de 150 em
todo o grupo Eletrobrás - nas áreas de geração e transmissão de energia.
A empresa de maior dimensão que tem Furnas como sócia é a SPE Madeira
Energia, criada para gerir a hidrelétrica de Santo Antônio, no Rio
Madeira, negócio compartilhado com a Odebrecht, investigada na Lava
Jato.
Apenas em 2013, o grupo Eletrobrás investiu R$ 3,98 bilhões em projetos
geridos em parcerias por SPEs. O dinheiro foi gasto, principalmente, nas
hidrelétricas de Jirau (R$ 1 bilhão), Santo Antônio (R$ 700 milhões) e
Belo Monte (R$ 900 milhões), na Região Norte do País, e Teles Pires (R$
400 milhões), em Mato Grosso. Furnas participa de Santo Antônio e Teles
Pires.
O acesso às informações foi pedido pelo TCU em outubro ao conselho
fiscal da Eletrobrás, segundo uma fonte. A empresa, por meio de sua
assessoria de imprensa, afirmou que "todas as informações solicitadas
pelo órgão de fiscalização estão sendo enviadas, como sempre ocorre
quando há solicitações do TCU".
A constituição de empresas ligadas a projetos específicos foi a solução
encontrada pela Eletrobrás para continuar investindo em grandes projetos
de infraestrutura em posição minoritária, sem comprometer tanto o seu
caixa. O governo utiliza o conhecimento da estatal no setor para atrair
investidores privados para os projetos, uma alternativa especialmente
favorável neste momento em que as empresas do grupo passam por
dificuldades financeiras, com a redução das tarifas de geração e
transmissão de energia e retração de receita.
'Governança'. Em nota oficial, a Eletrobrás afirma que as SPEs são
"importantes formas de alavancar investimentos privados em projetos
estruturantes" e que elas "obedecem a todas as normas de governança da
Eletrobrás e às melhores práticas de mercado". Com a instituição desse
tipo de sociedade, por meio da Lei 11.079, de 2004, foram atraídas para o
setor de energia grandes empreiteiras.
Desde então, elas passaram a liderar os investimentos no setor,
principalmente na construção de hidrelétricas. Na SPE Norte Energia,
formada para administrar a hidrelétrica de Belo Monte, no Rio Xingu, a
Queiroz Galvão, a Galvão Engenharia e a OAS integraram o consórcio
vencedor para a construção da usina, mas venderam suas participações, em
seguida, para as distribuidoras Cemig e Light.
Na SPE Madeira Energia, Furnas investe junto com a Odebrecht e outros sócios, modelo repetido na SPE Teles Pires.
As construtoras citadas são apontadas por réus, delatores e investigados
da Lava Jato como recebedoras e pagadoras de propina para serem
favorecidas em contratos com a Petrobras. Elas negam envolvimento em
irregularidades e alegam que são vítimas de extorsão.
FONTE ROTA2014
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