Cheiro de autoritarismo
Editorial da Zero Hora
Porto Alegre
As
manifestações agressivas contra a presença da blogueira cubana Yoani
Sánchez no país, a intromissão dos embaixadores da Venezuela e de Cuba
em assuntos estritamente brasileiros e o virulento ataque de lideranças
do PT à imprensa no recente encontro do partido são sinais claros,
evidentes e preocupantes da reativação de um radicalismo autoritário que
parecia fazer parte do passado no Brasil.
Pelo
jeito, estava apenas adormecido. Por conta da visão exacerbada desta
militância anacrônica e de seus representantes no parlamento, até mesmo
uma entrevista da dissidente cubana esteve para ser censurada na TV
Senado, só indo ao ar por interferência direta
do senador Eduardo Suplicy, que vem dando exemplos de sensatez e
moderação em meio ao comportamento extremista de seus correligionários.
Ao
eleger a "grande imprensa" como inimigo, a direção do Partido dos
Trabalhadores, respaldada pelo ex-presidente Lula, mostra dificuldade em
aceitar o pluralismo e a liberdade de expressão como elementos
intrínsecos da democracia. No ambiente de corporativismo partidário do
encontro da última quarta-feira, que contou inclusive com a presença de
petistas condenados no processo do mensalão, até mesmo a presidente
Dilma Roussef deixou de lado sua histórica posição de apoio à liberdade
de imprensa ("O único controle da mídia que eu proponho é o controle
remoto na mão do telespectador") para se alinhar ao coro dos
insatisfeitos. Esse clima de patrulhamento, conjugado ao início
antecipado da campanha eleitoral para
2014, gera uma situação preocupante para o país, pois tende a legitimar
as ações de grupos radicais que não respeitam quem pensa diferente. No
momento em que o Brasil registra significativos avanços sociais e se
prepara para encarar os desafios do desenvolvimento, seria de todo
indesejável um retrocesso nas liberdades democráticas duramente
conquistadas e defendidas pela maioria dos brasileiros.
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