REINALDO AZEVEDO
Dilma deixou o “papa argentino” com inveja: “Deus é brasileiro!”. O custo do deslocamento da Corte de Dario
Já
deveria ter escrito a respeito, mas sabem cumé… Assunto demais para
Reinaldo de menos, hehe. Eu ainda estou cá a pensar na brincadeira — ela
costuma ser pândega mesmo! — que a presidente Dilma Rousseff fez na
quarta-feira, depois do encontro com o papa Francisco. Indagada por um
jornalista sobre o que pensava do fato de Jorge Bergoglio ser argentino,
ela mandou ver: “Vocês, argentinos, têm muita sorte. A gente sempre diz: ‘O papa é argentino, mas Deus é brasileiro’”. Tá.
A relação
de Dilma com a língua é algo que me encanta desde o tempo em que ela foi
anunciada como ministra das Minas e Energia. Chama a minha atenção
aquele advérbio, o “sempre”. Hoje é apenas o nono dia do pontificado de
Francisco, mas Dilma já fundou uma tradição… Assim, há longuíssimos NOVE
DIAS, “a gente sempre diz” o besteirol de que o papa é argentino, mas
Deus é brasileiro…
Quando a
presidente fazia a sua graça, já passavam de 20 os mortos pela chuva em
Petrópolis. Deus é brasileiro? Acho que não. Mas Dilma é. Sérgio Cabral
é. As autoridades de Petrópolis são. O Nordeste assiste à pior seca dos
últimos 40 anos — anunciadíssima, e parte do semiárido já está
esfaimando. Deus é brasileiro? Acho que não. Mas todos aqueles que não
tomaram as medidas preventivas para que a rotina de miséria se repetisse
são brasileiros. Brasileira, mais uma vez, é Dilma, que prometeu na
Paraíba o Bolsa Bode quando voltar a chover.
Eu sei que
ela estava brincando, eu sei… Mas, definitivamente, é preciso parar com
essa cafonice. Os brasileiros é que são brasileiros. Para o bem e para o
mal, Deus não tem nada com isso.
O encontro
com o papa deixou Dilma muito inspirada. Instada a dar a sua impressão
pessoal sobre o Sumo Pontífice, aquela que havia viajado à Itália com
uma corte maior do que a de Dario, filosofou: “Ele disse que está com o Brasil e com a América Latina. É um papa muito normal. Ele fala um portunhol e entende o português”.
Entendi. De hoje em diante, para mim, o padrão da normalidade será
falar portunhol e entender português. No segundo quesito ao menos, o MEC
de Mercadante, o da tese-miojo, está cheio de pessoas anormais.
Tenho
repetido aqui que o papa não é argentino — o então cardeal Jorge
Bergoglio era. O papa é da Igreja Católica e, por definição e função, é
universal, é de todo lugar. Mas eu mesmo sou tentado a achar que sobrou
no Santo Padre uma ironia portenha com seus “hermanos” brasileiros.
A
presidente contou que Francisco lhe deu um livro de presente com o
resultado da 5ª Conferência-Geral do Episcopado Latino-Americano e do
Caribe, que aconteceu em Aparecida, em 2007. Segundo a própria Dilma,
ele lhe disse: “Você não precisa ler tudo porque você pode se aborrecer, então você pega o índice e vai nos assuntos que te interessam”.
O papa,
pelo visto, conhece bem o espírito da turma. Deve ter-se lembrando de
uma entrevista ou outra de Lula, antecessor de Dilma, que já afirmou que
a leitura lhe dá sono. “É claro que esses brasileiros não vão ter
paciência de ler um livro inteiro…”
Ela aproveitou o ensejo, também, para fazer campanha eleitoral. Afinal, é uma conterrânea de Deus. Afirmou ainda: “O
papa é extremamente carismático e tem um compromisso com os pobres, o
que torna a relação com o Brasil muito importante porque o governo
brasileiro vem nos últimos dez anos focando a questão da superação da
pobreza. Expliquei como é que estamos. Mas ele conhecia bem. Não houve
surpresa, ele conhecia bastante bem”.
Excelente!
Então esse papa tem compromisso com os pobres — os outros não tinham! E
é isso que tornaria a relação com o Brasil “muito importante”. Se um
dia não houver mais pobres no Brasil, a gente cassa a cidadania de Deus.
Só nos últimos 10 anos — na gestão petista, portanto —, é que se travou
a luta contra a pobreza. Antes, nada foi feito. Naquele tempo em que
algumas forças políticas lutavam para acabar com a inflação, tendo de
enfrentar a sabotagem petista, o que se fazia, claro!, era punir os
pobres…
O
deslocamento da Corte de Dario de Dilma Rousseff à Itália custou R$ 324
mil só em hospedagem. Coloquem aí todos os demais custos, a coisa passa
fácil dos R$ 500 mil. Não foi inútil. Agora sabemos:
a: o papa é argentino, mas Deus é brasileiro;
b: o papa é uma pessoa normal porque fala portunhol e entende português;
c: o papa deu um livro a Dilma, mas apostou que ela não terá paciência para lê-lo;
d: o Brasil começou a combater a pobreza há apenas dez anos.
a: o papa é argentino, mas Deus é brasileiro;
b: o papa é uma pessoa normal porque fala portunhol e entende português;
c: o papa deu um livro a Dilma, mas apostou que ela não terá paciência para lê-lo;
d: o Brasil começou a combater a pobreza há apenas dez anos.
O papa já havia se encontrado com Cristina Kirchner e certamente achou aqueles vinte minutinhos com Dilma muito agradáveis…
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