O telefone sem fio da Dilma - BARBARA GANCIA
Aceitar 'um pouco' de inflação é como dizer a um alcoólatra que ele pode beber um gole ao dia
O homem é conhecido como o Chuck Norris da Sibéria. Já foi acusado de envenenar espião inimigo com material radioativo e agora tem seu nome ligado à morte aparentemente não morrida, mas quem sabe matada, do oligarca Boris Berezovski (sim, Tevez e Corinthians), encontrado morto no banho na semana passada.
Pois esse mesmo Vladimir Putin que trata uma das maiores potências do mundo como se fosse sua caixa de blocos de Lego parecia um menino aterrorizado no jantar dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China) nesta semana.
Reveja as imagens em que o russo está jantando ao lado da nossa presidente, Dilma Rousseff. Sua expressão é a de quem: a) está tendo sérios problemas no ciático; b) deve ter perdido a Mega-Sena por um mísero digito; c) pode estar se debatendo com a filosófica questão: "Como pude esquecer o Luftal no quarto do hotel?" ou, a hipótese mais provável: "Por que raios me sentaram ao lado da Catifunda?"
O presidente russo não deve ter acreditado que pudesse existir neste mundão de meu Deus um ser tão mal-encarado quanto ele.
"Está certo que meu serviço secreto me informa que os antepassados deste Caterpillar são búlgaros, mas será que o sol dos trópicos não podia ter acalentado o humor de retroescavadeira dela?", parece ele confidenciar ao seu colete antibombas molotov. "E pensar que o Berezovski me contava que o Lula era tão simpático..."
Pois é, Dilma estava mesmo infernal nesta viagem à África do Sul. Vai ver não aguenta mais viver fazendo e desfazendo mala, uai? Pode ser que tenha implicado com o tailleur vermelho que arrumaram para ela -que veio desprovido do adereço principal: o coelho Sansão para dar na cabeça dos repórteres tapuias, não é mesmo, Cebolinha?
Ou pode ser que o gosto amargo sobre os comentários a respeito do tamanho da comitiva na viagem à Roma ainda não tenha sido digerido -por que foi mesmo que ninguém pensou em se hospedar na Embaixada do Brasil junto ao Vaticano, já que a Embaixada brasuca na Itália continua vacante, hein, Cesare Battisti?
Seja como for, nunca na história deste país ou de São Petersburgo ou de Petrogrado, como queiram, se havia visto o valentão Putin tão intimidado ou nossa Dilma tão pouco disposta a enfrentar microfones.
E tudo bem que um tenha mais ânimo em lidar com jornalista e outro menos. Mas não é possível que nossa imprensa seja todinha ela considerada pelo governo do PT como se fosse um corpo distinto. Somos várias empresas, compostas por inúmeros profissionais, cada qual com sua independência e seu modo de pensar. É ridícula a tentativa de reduzir tudo a complô sempre que as coisas não andam a contento.
E, se o mundo financeiro reage à fala de Dilma desta ou daquela forma, o que se há de fazer? Da próxima vez, que tal colocar o Tombini para falar? Ou, melhor ainda, não deixar margem para a volta da inflação?
Sabe o que está causando o telefone sem fio? É essa conversa de "um pouco" de inflação. Nesse assunto, reitero, não existe "um pouco". É como aquele negócio (peço perdão pela rudeza da imagem, mas a gravidade da situação me compele) de "só a cabecinha".
É como dizer a um alcoólatra que ele pode beber um gole ao dia. Lembro-me da época em que o valor de um cheque era um na hora em que você começava a escrevê-lo e outro na hora em que terminava.
O Brasil não superou seu drama com a inflação a ponto de se dar a experimentos. E Dilma não tem cacife para bancar esse banzé. Se não deu para entender a analogia, lá vai mais uma: inflação é como hormônio. É muito difícil controlar a quantidade. E muito fácil criar um Frankenstein de meter medo no Putin.
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