Festa da democracia - MERVAL PEREIRA
O GLOBO -
Foi uma noite em que a
Justiça brasileira foi homenageada: o presidente do Supremo Tribunal
Federal, ministro Joaquim Barbosa, recebeu o prêmio Personalidade do
Ano, e o ex-presidente do STF Carlos Ayres Britto, o de Destaque do
País. Ambos têm em comum o fato de terem presidido o julgamento do
mensalão, um marco na História política do país.
Aplaudidos de pé pela
platéia, destacaram a relação da sociedade com o Supremo e atribuíram
essa aproximação à imprensa, que, segundo Barbosa, cumpre papei
relevante na democracia brasileira. Para ele, "há uma sinergia grande,
importante c relevantíssima entre nós do Poder Judiciário c a sociedade"
graças ao trabalho da imprensa que ajuda a opinião pública a entender
um setor da vida estatal "tão difícil de compreender, às vezes
impenetrável, que é essa missa institucional de fazer justiça"
Ele classificou de
"evolução" essa capacidade de a sociedade acompanhar e até mesmo influir
no Poder Judiciário, e atribuiu ao trabalho "cada vez mais ativo" da
imprensa essa situação. O ministro Ayres Britto disse que o fato de ele e
Joaquim Barbosa terem conquistado um prêmio com o nome tão sugestivo
como o Faz Diferença mostra que a sociedade está conhecendo mais o STF,
que vem entendendo com mais clareza o seu papel de instituição
"concretizadora da lei maior do país, que é a Constituição".
A importância da
imprensa no fortalecimento da democracia brasileira foi a tônica dos
discursos dos dois homenageados. Barbosa fez a defesa do papel
fiscalizador da imprensa, afirmando que a vida pública deve ser e tem
que ser "escrutinizada, vigiada pela imprensa. Não consigo ver a vida do
Estado c de seus agentes e personagens sem a vigilância da imprensa"
Os dois têm visões
coincidentes sobre a liberdade de imprensa. Para Joaquim Barbosa, "a
transparência e abertura total e absoluta devem ser a regra" e não pode
haver mistério em relação ao exercício das funções públicas, que devem
ser acompanhadas pela imprensa. O ministro Ayres Britto. que foi o
relator do julgamento que deu fim no Supremo Tribunal Federal à Lei de
Imprensa promulgada durante a ditadura militar - que ele considera ter
sido a decisão mais importante da qual participou, por ter permitido a
plenitude da liberdade de imprensa no país, inviabilizando qualquer tipo
de censura -. diz que a liberdade deve ser total:
"Quem quer que seja pode
dizer o que quer que seja. Responde pelos excessos que cometer, mas não
pode ser podado por antecipação." Na ocasião, ele disse que "as
relações de imprensa são da mais elevada estatura constitucional pelo
seu umbilical vínculo com a democracia" Para Ayres Britto, "cortar esse
cordão umbilical entre a democracia e a liberdade de imprensa é matar as
duas"
Na homenagem de ontem,
ele ressaltou a importância da imprensa na aproximação do Judiciário com
a sociedade, o que permite que a opinião pública entenda melhor o papel
do Supremo Tribunal Federal, "uma casa de fazer destinos" na sua
definição poética. Essa capacidade de "fazer destinos" aliás, foi
ressaltada por ele quando relutou sua felicidade por ser ministro do
Supremo Tribunal Federal por nove anos, período durante o qual dizia aos
colegas "que quem chega ao STF não tem sequer o direito ao mau humor"
Para Ayres Britto, são
tantas as possibilidades de arejar mentes, tantas as chances de
contribuir para a modernidade do país, em diversos planos - político,
ético, dos costumes, ecológico -, que ficar de mau humor seria uma
maneira de dispersar a energia. Certamente estava comemorando os
diversos casos em que, sendo relator, ajudou a aprovar, como a união
civil dos homossexuais e o aborto em casos de anencefalia.
Inafiançável
Presente na festa do
prêmio Faz Diferença, o ministro do Supremo Tribunal Federal Luiz Fux
ressaltava em várias rodas que a declaração do ex-presidente Lula de que
o financiamento privado de campanhas eleitorais deveria ser tipificado
como "crime inafiançável" vinha ao encontro da decisão do STF de
condenar os mensaleiros.
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