Discurso do Senador Aécio na tribuna do Senado
Senhor Presidente,
Senhoras e senhores senadores,
Aproveito a oportunidade,
extremamente emblemática, em que o Partido dos Trabalhadores festeja os seus 33
anos de existência --e uma década de exercício de poder à frente da
Presidência-- para emprestar-lhes alguma colaboração crítica.
Confesso que o faço neste momento
completamente à vontade, haja vista a cartilha especialmente produzida pela
legenda para celebrar a ocasião festiva.
Nela, de forma incorreta, o PT
trata como iguais as conjunturas e realidades absolutamente diferentes que
marcaram os governos do PSDB e do PT.
Ao escolher comemorar o seu
aniversário falando do PSDB, o PT transformou o nosso partido no convidado de
honra da sua festa.
Eu aceito o convite até porque
temos muito o que dizer aos nossos anfitriões.
Apesar do esforço do partido em se
apresentar como redentor do Brasil moderno, é justo assinalar algumas ausências
importantes na celebração petista.
Nela, não estão presentes a
autocrítica, a humildade e o reconhecimento. Essas são algumas das
matérias-primas fundamentais do fazer diário da política e que, infelizmente,
parecem estar sempre em falta na prática dos nossos adversários.
Mas afinal, qual é o PT que
celebra aniversário hoje?
O que fez do discurso da ética,
durante anos, a sua principal bandeira eleitoral, ou o que defende em praça
pública os réus do mensalão?
O que condenou com ferocidade as
privatizações conduzidas pelo PSDB ou o que as realiza hoje, sem qualquer
constrangimento?
O que discursa defendendo um
Estado forte ou o que coloca em risco as principais empresas públicas
nacionais, como a Petrobras e a Eletrobras?
O Brasil clama por saber: qual PT
aniversaria hoje?
O que ocupou as ruas lutando pelas
liberdades ou o que, no poder, apoia ditaduras e defende o controle da
imprensa?
O PT que considerava inalienáveis
os direitos individuais ou o que se sente ameaçado por uma ativista cuja única
arma é a sua consciência?
A verdade é que hoje seria um bom
dia para que o PT revisitasse a sua própria trajetória, não pelo espelho do
narcisismo, mas pelos olhos da história.
Até porque, ao contrário do que
tenta fazer crer a propaganda oficial, o Brasil não foi descoberto em 2003.
Onde esteve o PT em momentos
cruciais, que ajudaram o Brasil a ser o que é hoje?
Como já disse aqui, todas as vezes
que o PT precisou escolher entre o PT e o Brasil, o PT escolheu o PT.
Foi assim quando negou seu apoio a
Tancredo no Colégio Eleitoral para garantir o nosso reencontro com a
democracia.
Foi assim quando renegou a
constituição cidadã de Ulysses.
Quando eximiu-se de qualquer
contribuição à governabilidade no governo Itamar Franco e quando se opôs ao
Plano Real e a Lei de Responsabilidade Fiscal
Em todos esses instantes o PT
optou pelo projeto do PT.
Fato é que, no governo, deram
continuidade às políticas criadas e implantadas pelo presidente Fernando
Henrique.
E fizeram isso sem jamais
reconhecer a enorme contribuição dada pelo governo do PSDB na construção das
bases que permitiram importantes conquistas alcançadas no período de governo do
PT.
No governo ou na oposição temos as
mesmas posições.
Não confundimos convicção com
conveniência.
Nossas convicções não nos impedem
de reconhecer que nossos adversários, ao prosseguirem com ações herdadas do
nosso governo, alcançaram alguns avanços importantes para o Brasil.
Da mesma forma, são elas, as
nossas convicções, que sustentam as críticas que fazemos aos descaminhos da
atual gestão federal.
Senhoras e senhores senadores,
A presidente Dilma Rousseff chega
à metade de seu mandato longe de cumprir as promessas da campanha de 2010.
Há uma infinidade de compromissos
simplesmente sublimados.
A incapacidade de gestão se
adensou, as dificuldades aumentaram e o Brasil parou.
Os pilares da economia estão em
rápida deterioração, colocando em risco conquistas que a sociedade brasileira
logrou anos para alcançar, como a estabilidade da moeda.
Senhoras e senhores
Sei que a grande maioria das
senadoras e senadores conhece as dezenas de incongruências deste governo, que
têm feito o país adernar em um mar de ineficiência e equívocos.
Mas o resultado do conjunto da
obra é bem maior do que a soma de suas partes.
Nos poucos minutos de que disponho
hoje gostaria de convidá-los a percorrer comigo 13 dos maiores fracassos e das
mais graves ameaças ao nosso futuro produzidos pelo governo que hoje comemora
10 anos.
Confesso que não foi fácil
escolher apenas 13 pontos.
1. O comprometimento do nosso
desenvolvimento:
Tivemos um biênio perdido, com o
PIB per capita avançando minúsculo 1%. Superamos em crescimento na região
apenas o Paraguai. Um quadro inimaginável há alguns anos.
2. A paralisia do país: o PAC da
propaganda e do marketing
O crítico problema da
infraestrutura permanece intocado. As condições de nossas rodovias, portos e
aeroportos nos empurram para as piores colocações dos rankings mundiais de
competitividade. O Brasil está parado.
São raras as obras que se
transformaram em realidade e extenso o rol das iniciativas só serve à
propaganda petista.
3. O tempo perdido: A indústria
sucateada
O setor industrial - que
tradicionalmente costuma pagar os melhores salários e induzir a inovação na
cadeia produtiva - praticamente não tem gerado empregos. Agora começa a
desempregar, como mostrou o IBGE. Estamos voltando à era JK, quando éramos
meros exportadores de commodities.
4. Inflação em alta: a
estabilidade ameaçada
O PT nunca valorizou a
estabilidade da moeda.
Na oposição, combateu o Plano Real.
Na oposição, combateu o Plano Real.
O resultado é que temos hoje
inflação alta, persistentemente acima da meta, com baixíssimo crescimento. Quem
mais perde são os mais pobres.
5. Perda da Credibilidade: A
Contabilidade criativa
A má gestão econômica obrigou o PT
a malabarismos inéditos e manobras contábeis que estão jogando por terra a
credibilidade fiscal duramente conquistada pelo país.
Para fechar as contas,
instaurou-se o uso promíscuo de recursos públicos, do caixa do Tesouro, de
ativos do BNDES, de dividendos de estatais, de poupança do Fundo Soberano e até
do FGTS dos trabalhadores.
Recorro ao insuspeito ministro
Delfim Neto, próximo conselheiro da presidente da republica que publicamente
afirmou:
"Trata-se de uma sucessão de
espertezas capazes de destruir o esforço de transparência que culminou na
magnífica Lei de Responsabilidade Fiscal, duramente combatida pelo Partido dos
Trabalhadores na sua fase de pré-entendimento da realidade nacional, mas que
continua sob seu permanente ataque".
A quebra de seriedade da política
econômica produzidas por tais alquimias não tem qualquer efeito prático, mas
tem custo devastador.
6. A destruição do patrimônio
nacional: a derrocada da Petrobras e o desmonte das estatais
Em poucos anos, a Petrobras teve
perda brutal no seu valor de mercado.
É difícil para o nosso orgulho
brasileiro saber que a Petrobras vale menos que a empresa petroleira da
Colômbia.
Como o PT conseguiu destruir as
finanças da maior empresa brasileira em tão pouco tempo e de forma tão nefasta?
Outras empresas estatais vão pelo
mesmo caminho.
Escreveu recentemente o economista
José Roberto Mendonça de Barros:
"Não deixa de ser curioso que
o governo mais adepto do estado forte desde Geisel tenha produzido uma
regulação que enfraqueceu tanto as suas companhias".
7. O eterno país do futuro: o mito
da autossuficiência e a implosão do etanol
Todos se lembram que o PT alçou a
Petrobras e as descobertas do pré-sal à posição de símbolos nacionais. Anunciou
em 2006, com as mãos sujas de óleo, que éramos autossuficientes na produção de
petróleo e combustíveis.
Pouco tempo depois, porém, não
apenas somos importadores de derivados como compramos etanol dos Estados
Unidos.
8. Ausência de planejamento: O
risco de apagão
No ano passado, especialistas
apontavam que o governo Dilma foi salvo do racionamento de energia pelo péssimo
desempenho da economia, mas o risco permanece.
Os "apaguinhos" só não
são mais frequentes porque o parque termoelétrico herdado da gestão FHC está
funcionando com capacidade máxima.
A correta opção da energia eólica
padece com os erros de planejamento do PT: usinas prontas não operam porque não
dispõem de linhas de transmissão.
9. Desmantelamento da Federação:
interesses do pais subjugados a um projeto de poder
O governo adota uma prática
perversa que visa fragilizar estados e municípios com o objetivo de
retirar-lhes autonomia e fazê-los curvar diante do poder central.
O governo federal não assume, como
deveria, o papel de coordenador das discussões vitais para a Federação como as
que envolvem as dividas dos estados, os critérios de divisão do FPE e os
royalties do petróleo assistindo passivamente a crescente conflagração entre as
regiões e estados brasileiros.
Assiste, também, ao trágico do
Nordeste, onde faltam medidas contra seca.
10. Brasil inseguro: Insegurança
pública e o flagelo das drogas
Muitos brasileiros talvez não
saibam, mas apesar da propaganda oficial, 87% de tudo investido em segurança
pública no Brasil vêm dos cofres municipais e estaduais e apenas 13% da União.
Os gastos são decrescentes e
insuficientes: no ano passado, apenas 24% dos R$ 3 bilhões previstos no
Orçamento foram investidos. E isso a despeito de, entre 2011 e 2012, a União já
ter reduzido em 21% seus investimentos em segurança.
Um dos efeitos mais nefastos dessa
omissão é a alarmante expansão do consumo de crack no país. E registro a
corajosa posição do governador Geraldo Alckmin nessa questão.
11. Descaso na saúde, frustração
na educação
O governo federal impediu, através
da sua base no Congresso, que fosse fixado um patamar mínimo de investimento em
saúde pela esfera federal. O descompromisso e as sucessivas manobras com
investimentos anunciados e não executados na área agridem milhões de
brasileiros.
Enquanto os municípios devem
dispor de 15% de seus recursos em saúde, os estados 12%, o governo federal
negou-se a investir 10%.
As grandes conquistas na área da
saúde continuam sendo as do governo do PSDB: Saúde da Família, genéricos,
política de combate à AIDS.
Com a educação está acontecendo o
mesmo. O governo herdou a universalização do ensino fundamental, mas foi
incapaz de elevar o nível da qualidade em sala de aula.
Segundo denúncias da imprensa, das
6.000 novas creches prometidas em 2010, no final de 2012, apenas 7 haviam sido
entregues.
12. O mau exemplo: o estímulo à
intolerância e o autoritarismo.
Setores do PT estimulam a
intolerância como instrumento de ação política. Tratam adversário como inimigo
a ser abatido.
Tentam, e já tentaram cercear a
liberdade de imprensa.
E para tentar desqualificar as
críticas, atacam e desqualificam os críticos, numa tática autoritária.
Para fugir do debate democrático,
transformam em alvo os que têm a coragem de apontar seus erros.
A grande verdade é que o governo
petista não dialoga com essa Casa, mantendo-o subordinado a seus interesses e
conveniências, reduzindo-o a mero homologador de Medidas Provisórias.
13. A defesa dos maus feitos: a
complacência com os desvios éticos.
O recrudescimento do autoritarismo
e da intolerância tem direta ligação com a complacência com que setores do
petismo lidam com práticas que afrontam a consciência ética do país. Os casos
de corrupção se sucedem, paralisando áreas inteiras do governo.
Não falta quem chegue a defender
em praça pública a prática de ilegalidades sobre a ótica de que os fins
justificam os meios.
Ao transformar a ética em
componente menor da ação política, o PT presta enorme desserviço ao país, em
especial às novas gerações.
Senhoras e senhores,
A grande verdade é, nestes dez
anos, o PT está exaurindo a herança bendita que o governo Fernando Henrique lhe
legou.
A ameaça da inflação, a quebra de
confiança dos investidores, o descalabro das contas públicas são exemplos de
crônica má gestão.
No campo político, não há mais
espaço para tolerar o intolerável.
É intolerável, senhoras e
senhores, a apropriação indevida da rede nacional de rádio e TV para que o
governante possa combater adversários e fazer proselitismo eleitoral.
É intolerável o governo brasileiro
receber de representantes de um governo amigo do PT informações para serem
usadas contra uma cidadã estrangeira em visita ao nosso país.
Diariamente, assistimos serem
ultrapassados os limites que deveriam separar o público do partidário.
E não falo apenas de legalidade.
Falo de legitimidade.
Vejo que há quem sente falta da
oposição barulhenta, muitas vezes irresponsável feita pelo PT no passado.
Pois digo com absoluta clareza:
não seremos e nem faremos esta oposição.
Agir como o PT agiu enquanto
oposição faria com que fôssemos iguais a eles.
E não somos.
Não fazemos oposição ao Brasil e
aos brasileiros. Jamais fizemos.
Tentando mais uma vez dividir o
país entre o nós e o eles, entre os bons e os maus, o PT foge do verdadeiro
debate que interessa ao Brasil e aos brasileiros.
Como construiremos as verdadeiras
bases para transformarmos a administração diária da pobreza em sua definitiva
superação?
Como construiremos as bases para
um desenvolvimento verdadeiramente sustentável e solidário com todos os
brasileiros?
A esta altura, parece ser esta uma
agenda proibida, sem qualquer espaço no governismo.
Até porque, senhoras e senhores,
se constata aqui o irremediável: não é mais a presidente quem governa. Hoje,
quem governa hoje o país é a lógica da reeleição.
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