Para
o conservador, a política é apenas um dos vários instrumentos de
exercício do conservadorismo, mas está longe de ser o mais nobre ou o
mais eficaz.
Há uma galeria notável de intelectuais que se aventurou na sempre arriscada, mas grandiosa, tarefa de definir o que é o conservadorismo – e me refiro ao pensamento conservador britânico. Desde Richard Hooker, o fundador do Conservadorismo antigo, temos uma lista canônica de cavalheiros conservadores do passado e do presente: Marquês de Halifax, Edmund Burke, Lord Hugh Cecil, Michael Oakeshott, Russell Kirk, John Kekes, Anthony Quinton, Roger Scruton, Kenneth Minogue, Kieron O’Hara.
Definir
o que é o conservadorismo não é uma tarefa simples para conservadores
nem para os filósofos políticos. Porque conservadorismo em si não é uma
ideologia, nem uma filosofia e muito menos um programa de aplicação
política. Trata-se, contudo, de um espírito, de uma disposição – para
usar o termo do filósofo político Michael Oakeshott – que se alicerça ou
se manifesta num conjunto de princípios, valores, hábitos, práticas e
ideias que emergem da rica experiência da vida em sociedade, dentro da
qual se localiza a política.
Qualificar
o conservadorismo como um espírito ou como uma disposição é o mais
próximo que podemos ter de uma concepção abrangente, mas talvez a imagem
mais adequada sobre o que é o conservadorismo seja a do trimmer, extraída da terminologia náutica pelo Marquês de Halifax. O trimmer,
ferramenta responsável por manter o equilíbrio da embarcação quando o
seu curso é ameaçado, serve perfeitamente ao objetivo de Halifax de
realçar o exercício suave do conservadorismo, que, no caso da política,
não muda de posição com o advento das modas ideológicas e se caracteriza
pela reação às ameaças de alterações radicais ou mudanças que provoquem
sofrimento e que rompam aquela ligação de familiaridade que o indivíduo
tem com o presente e com aquilo que possui.
Para
o conservador, a política é apenas um dos vários instrumentos de
exercício do conservadorismo, mas está longe de ser o mais nobre ou o
mais eficaz. Não é sem razão que o Partido Conservador Inglês nasce da
aversão pela política partidária, segundo mostra Roger Scruton no seu
precioso The Meaning of Conservatism, que recomendo vivamente.
Essas
observações são necessárias para tentar obter uma resposta à legítima
pergunta: onde estão os políticos conservadores brasileiros?
No
entanto, acredito que há uma pergunta prévia a ser feita: o que é e
onde está o conservadorismo brasileiro? Porque para que uma Margaret
Thatcher fosse possível – e ela é apenas uma dentre tantos políticos
conservadores britânicos – foi preciso, antes, haver um conservadorismo
que conquistasse e influenciasse uma parcela da sociedade.
No
Brasil, antes de pensar num político conservador é preciso que tenhamos
um pensamento conservador que possa influenciar culturalmente a
sociedade. Só depois disso é que será possível esperar o surgimento de
uma elite política apta a defender princípios e valores conservadores. A
batalha, antes de ser política e econômica, é cultural.
Se
a política conservadora vier antes do conservadorismo poderá acontecer o
que um conservador britânico rejeitaria de forma absoluta: a criação
artificial de um estímulo conservador pelo exercício centralizado da
política partidária. Isso seria uma forma rápida de destruir o que esse
mesmo conservador preza: uma sociedade na qual a família, a liberdade, a
propriedade e a ordem seriam preservadas porque garantem seus modos de
vida, sua tradição e a busca livre pela prosperidade.
Bruno Garschagen é cientista político pelo Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica de Lisboa e University of Oxford, e podcaster do Instituto Ludwig von Mises.
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