Jornalista Andrade Junior

sábado, 30 de março de 2013

31 de março: Palavras de um Pica-Fumo

31 de março: Palavras de um Pica-Fumo
Cel José Gobbo Ferreira
Era o ano de 1964. Em Juiz de Fora havia uma Unidade de Material Bélico, a 4ª Companhia  Leve de Manutenção, que se destacava entre as demais da guarnição.
Pequena,  mas ativa na prestação dos serviços de apoio a todas as guarnições da 4ª Região, perfeitamente integrada no espírito de servir, e com  equipes  esportivas poderosas, tanto de Oficiais como de Sargentos, frequentemente Campeã em basquete, vôlei ou FutSal nas competições da guarnição.
Eu servia  orgulhosamente  nessa Unidade, onde havia chegado  Aspirante  no início do ano anterior, feliz como só um Aspirante pode se  sentir. Um dia, meu Comandante me chamou para uma conversa em seu gabinete. Ela versou sobre a situação política, minhas convicções, o que achava do que estava acontecendo etc. Não  seria honesto lhes narrar minhas respostas, pois não me lembro mais   delas. Sei que, no dia seguinte, o  Capitão  me ordenou que me apresentasse ao Gen.  Mourão, nosso Comandante de Região, no QG.
Lá chegando, tive mais ou menos a mesma conversa com o General, acompanhado de um índio velho paisano envolto em um poncho, do Cel. Batista, Chefe do Estado Maior, e do TC Heitor de Caracas Linhares, o E3 da Região.  Imaginem o humilde pica-fumo, 2ºTenente MB, nessa companhia...

Lá chegando confabularam entre si e, ao final, me chamaram de volta. Aí descobri que o índio velho era o Gen. Muricy. Sob condição de sigilo total me ordenaram que me preparasse para cumprir uma missão de risco.
No dia 28  de março fui chamado  pelo Cel.  Batista. Ele me deu uma leve noção do que estava para acontecer e me ordenou que  organizasse uma equipe de suprimento Classe III (Combustíveis, lubrificantes,    etc) e, na madrugada de 30 me deslocasse  pela velha União e Indústria  até Areal  -  RJ  e estabelecesse um posto de reabastecimento e apoio a um grande efetivo de tropa que deveria se deslocar rumo ao Rio de Janeiro passando por ali.  Em  seguida,  devia retrair  para a margem esquerda do Paraíba e aguardar novas ordens.
O Coronel me deu uma carta pessoal para um sobrinho seu que  devia colocar o posto de gasolina de Areal à minha disposição e me desejou boa sorte.   No dia 30 lá fui eu, com meu jipe, três  ou quatro  caminhões militares e  um caminhão pipa  civil com gasolina, requisitado por nós.
Cumpri a missão. Só que, quando  voltei à  noite para a  margem esquerda do Paraíba, de manhã  completamente deserta, encontrei uma aglomeração de tropas, tendo à frente o 10º RI de Juiz de Fora, a comando do  Cel.  Everaldo.  Era o glorioso estacamento Tiradentes,  em sua marcha rumo ao Rio de Janeiro.  Acomodei meus homens,  fui dormir exausto e  acordei com  um alvoroço, alta madrugada. Era o  Ten. Monteiro de Barros (o mais novo), vadeando o rio para se juntar aos nossos.Pouco depois recebi ordem do TC Linhares para que partisse rumo ao posto em Areal, à frente do Destacamento e com alguma antecipação, para estar perfeitamente pronto e operacional quando a coluna passasse por lá.
Areal era um pequeno vilarejo, quase  que só uma rua, em um vale.    Elementos de vanguarda da infantaria do Rio  já haviam ocupado as elevações  ladeando a  estrada.
Passávamos, completamente desabrigados, com o “inimigo”  a cavaleiro de nós.  No ar frio da manhã, podíamos ouvir os golpes de manejo da velha Madsen  nos recepcionando.  O coração veio à boca.  O medo se apresentou para o serviço.  Mas conseguimos o objetivo maior do guerreiro, que é vencê-lo. Prosseguimos, passamos por entre eles e nos instalamos.
O esquema que organizamos funcionou  bem.  Trabalhamos dois dias e  a noite  que os separou  sem parar  e quase sem comer.  Enquanto isso os chefes se acertaram,  e o interessante da missão é que, ao fim de um certo tempo, recebi ordem de abastecer também as viaturas do  “inimigo”, que voltavam para o Rio praticamente  juntas com as nossas.  Prevaleceu o bom senso. Prevaleceu o espírito de conciliação que o brasileiro inha naqueles tempos.
Hoje...
Já no Rio,  recebi o  eficiente  grupamento de manutenção, a comando do  Ten.  Adilson Bertolino, meu querido irmão, e como, embora sem merecê-lo, eu fosse o mais antigo,assumi o comando de toda a tropa da  4ª Leve em operação  na Guanabara.  O  restanteda missão foi trivial e bem conhecido.
Recebi elogios de todos os chefes do Destacamento, mas o de meu Comandante, Capitão Amaury Friese Cardoso, está gravado até hoje:
[...] por ter voluntariamente  atendido à conclamação feita por este Comando, incorporando-se ainda em  hora incerta à Revolução Democrática de 31 de março, ajudando a restaurar no Brasil o domínio da Constituição, a ordem jurídica e suas tradições cristãs. [...]. No momento em que a vitória vai pouco a pouco se consolidando  apresento  sinceros agradecimentos e  francos louvores por toda sua atuação no Movimento Revolucionário Democr
ático e concito  a que continue trilhando os mesmos caminhos de amor à Pátria e lealdade  aos princípios sagrados de nosso juramento à Bandeira do Brasil, como tão bem o fez até hoje (Individual).Meu Capitão: pode contar com isso!
É com esse  background  e esses parcos serviços prestados  ao primeiro passo da Contrarrevolução  que ouso  alinhavar  estas  palavras,  hoje,  como  uma homenagem ao manifesto    “À Nação Brasileira : 31 de março”  dos Clubes Militares, em particular  ao meu, o Clube Militar, a Casa da República.
República é um termo  que traz  embutido o conceito de liberdade! Liberdade de pensar, de falar, de agir, dentro dos limites da lei.  De ousar apontar os erros e os errados e de buscar solução para ambos. Mas estamos atravessando tempos  pouco republicanos. O triste espetáculo de março do ano passado nas portas do Clube Militar se repetiu  há  pouco,  recorrentemente,  com  nossa hóspede,  a  blogueira cubana  Yaoni Sánchez. As tropas SA  do nazi-petismo,  dessa vez  a serviço de Cuba,  encurralaram a moça onde quer que ela pretendesse  exercer seu direito de se expressar livremente em um país que ela imaginava fosse democrático. Essa é uma amostra clara do que nos espera se não reagirmos a tempo.
A incompetência, a demagogia  e a falta de  respeito do grupelho no poder brada aos céus por punição. A  economia  recua;  o aumento do PIB é desprezível,  abaixo da inflação e do crescimento  populacional;  a Petrobrás, antigo gigante econômico da Nação, se estiola;  a inflação ergue a cabeça maldita  e a inadimplência aumenta. A insensibilidade do governo é revoltante: enquanto patrícios sofrem a desonestidade e a irresponsabilidade dos políticos, sendo desalojados e morrendo como moscas nas intempéries previsíveis,  madame presidente,  ateia  e comunista,  vai  farisaicamente beijar  a mão do Papa,  torrando milhões de reais  com sua comitiva turística em Roma: O povo perdeu seus barracos? Que more em palácios...
A delinquência atormenta a sociedade em suas duas vertentes: a corrupção, dentro do governo, rapinando nossos recursos com incrível  naturalidade patrimonialista, e a violência, aqui fora, exercendo o terrorismo  rural e urbano  que, aliás, atacou o próprio Clube em março passado.  A pressão do vapor nessa caldeira  que se tornou nosso país está subindo perigosamente. Fatos portadores de futuro apontam para a possibilidade real de uma explosão sangrenta, cuja probabilidade aumenta a cada dia.
Enquanto não tomamos posição, a Nação Brasileira está sendo esquartejada. O inimigo divide para vencer.  Não somos mais a tão decantada  fusão  das  raças branca, negra e indígena como me ensinaram em meus  tempos de primário e ginasial. Hoje temos toda uma  quinta-coluna  promovendo  nossa divisão em grupos: índios e quilombolas com direito a extensos territórios próprios, à custa da expulsão dos proprietários legais e produtivos;  negros com direito a cotas especiais,  esbulhando o justo direito dos  mais qualificados;  ong´s  estrangeiras  atuando descaradamente para impedir nosso desenvolvimento, sob a capa da proteção ambiental  e aos indígenas;  uma  imensidade de cidadãos, refratários ao trabalho, com direito a bolsas a fundo perdido  das mais diversas  denominações, em troca de votos de cabresto. E, pagando  e sofrendo por tudo isso,  a  classe média, à qual, por especial  deferência  do governo, são  conferidos também  dois  direitos: o  de trabalhar  e o de pagar impostos  escorchantes  e sem etorno.
Repito mais uma vez que nós militares temos a  obrigação  moral e constitucional de defender  as instituições tradicionais e a  integridade  da Pátria. Nós  juramos  que o faríamos. Não há Ativa  ou Reserva. Não há Exército de ontem , de hoje ou de amanhã.
Há um e um só: o Exército de Caxias,  que tantas vezes impediu a secessão no Brasil.
Pois bem, parece que terá que fazê-lo de novo.  Que cada um esteja aprestado, dentro de suas possibilidades.
Precisamos de  um núcleo que congregue  todos aqueles dispostos a  afrontar o  avanço das trevas. E o Clube Militar  é o  espaço  nato  para esse núcleo.    A nota de hoje é um passo importante  para arrancá-lo  da acomodação em que se encontra e conduzi-lo de novo à condição de  guardião  e  Casa da República. E depressa,  enquanto ainda temos uma República  democrática, de princípios  cristãos,  pois ela  está sendo pouco a pouco corroída  pelas ameaças acima e pela  ação açambarcadora do executivo  lulopetista,corrompendo o Legislativo, ameaçando o Judiciário  e aparelhando o Estado. Dentro em breve  República, tal como a conhecemos  hoje,  será apenas uma lembrança dos tempos em que éramos felizes e bem sabíamos  e, no entanto  deixamos, por covardia, que aquela felicidade escorresse por entre nossos dedos...

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