Jornalista Andrade Junior

sexta-feira, 22 de março de 2013

Ruídos ameaçadores da Coreia do Norte

Quando um país tem poucas coisas além de armas, onde se supõe que sua política vai se apoiar? As ameaças vêm naturalmente.

A manchete do periódico Voice of America estampa: "Coreia do Norte ameaça atacarJapão". Em outra, o título é "EUA aumentará arsenal antibalístico após ameaças da Coreia do Norte". Fomos informados por meio de um aviso do Secretário de Defesa Chuck Hagel sobre a instalação de 14 interceptadores antibalísticos terrestres no Alaska até 2017. Em outro lugar lemos sobre um líder militar norte-coreano ameaçando os Estados Unidos com um ataque nuclear preventivo (veja os links em “Is War Brewing on the Korean Penninsula?”). Também podemos ver um assustador vídeo onde o jovem ditador norte-coreano diz aos oficiais militares: "Jogue todos os inimigos no caldeirão, quebrem suas cinturas e suas traqueias."
Esse sempre foi o estilo retórico do regime norte-coreano. Há pelo menos 15 anos que eles vêm prometendo transformar a Coreia do Sul em um "mar de fogo" enquanto simultaneamente ameaçam os Estados Unidos com a inevitável destruição nuclear. O governo norte-coreano atraiu muita atenção, e com isso ganhou ajuda para que mudasse seu discurso para um que prometesse paz. Quanto maiores as ameaças, maiores as colheitas para que a perspectiva de paz seja mantida. Isso na verdade é um velho jogo. Há de se perguntar, porém, se algum dia, um principezinho da Coreia do Norte, inebriado com o poder, levará essa retórica a sério. Qual o limite para que o estilo retórico se transforme em calamidade?

A Coreia do Norte é um país socialista de tipo diferente. Ela se manteve com uma postura linha dura e uma determinação espartana para combater o inimigo capitalista; para isso tem um exército gigantesco e um arsenal massivo de mísseis. E, como todos sabem, uma guerra na península coreana teria repercussões econômicas devastadoras para a Ásia e o Pacífico. Enquanto a América se preocupa se a Coreia do Norte tem mísseis capazes de acertar as cidades americanas, os japoneses e sul-coreanos já não têm mais dúvidas. Um míssil norte-coreano contendo uma ogiva com agentes biológicos ou mesmo uma nuclear pode atingir Tóquio a qualquer momento.

Qual a origem da militância norte-coreana?

A ideologia norte-coreana de início era um marxismo-leninismo compatível com a União Soviética e China. Em 1972, a ideologia foi oficialmente mudada para algo chamado "A ideologia Juche" que por sua vez foi uma ideologia colocada em moção pela primeira vez em meados dos anos 1950 pelo ditador fundador da Coreia do Norte, Kim Il-Sung. A ideologia propõe força militar e autoconfiança nacional. A Juche tem suas raízes na combinação da ideia "socialismo em um só país" de Stálin com o princípio de "regeneração através dos próprios esforços" de Mao. Como o homem é mestre de todas as coisas, a Coreia do Norte pode muito bem tomar uma posição independente contra o imperialismo e o capitalismo. Evidentemente essa posição não é verdadeiramente independente, pois a Coreia do Norte sempre recebeu suas armas da China e ocasional suporte econômico ou técnico da Rússia. O regime também usou as ameaças (incluindo a ameaça de construir uma arma nuclear) para conseguir assistência econômica, dinheiro e comida dos Estados Unidos e Coreia do Sul. Talvez estejam erroneamente tentando usar a atual ameaça de guerra nuclear para os mesmos propósitos.

Apesar de possuir uma grande e poderosa máquina militar, a Coreia do Norte é um dos países mais pobres do mundo. Tentando fazer da autocracia e da isolação virtudes, a economia daquele país murchou. Nos anos 1980 o governo levou a cabo um programa para produzir dez milhões de toneladas de grãos por ano. Para o descontentamento deles, produziram-se apenas quatro. (Estima-se que são necessários seis milhões de toneladas para alimentar o povo norte-coreano)

Ainda assim, a Coreia do Norte conseguiu criar um enorme exército com 153 divisões e brigadas, sendo 60 divisões e brigadas de infantaria, 25 brigadas mecanizadas, 13 brigadas de tanques, 25 brigadas de Forças Especiais e 30 brigadas de artilharias.

Quando um país tem poucas coisas além de armas, onde se supõe que sua política vai se apoiar? As ameaças vêm naturalmente. Toda a psicologia da liderança do país é alheia a esforços de paz. Ela é, com efeito, orientada para a guerra. Porém, se a guerra é impraticável no momento, a orientação é o engajamento na ameaça de guerra. Portanto, a coisa mais natural do mundo são os líderes norte-coreanos fazendo terríveis ameaças. 
Quanto à questão sobre se eles estão ou não blefando, na verdade deve se colocar de modo reverso. Os japoneses, sul-coreanos e americanos estão blefando acerca do comprometimento em resistir o avanço norte-coreano? E, além disso, eles estão dispostos a pagar um preço pela paz? Se assim for, os norte-coreanos logo suspeitarão. E outra coisa é certa: os norte-coreanos atacarão se e quando seus oponentes estiverem fracos. Não deixem que ninguém se engane a esse respeito. 


Publicado no Financial Sense.

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