31 de Março de 1964 – Um Marco Flamejante
Maynard Marques de Santa Rosa
“Nas janelas, ouvimos o apocalipse da fraternidade”.
A perplexidade de André Malraux
resume o drama da Espanha, em julho de 1936, quando a média de
assassinatos políticos atingia 66 crimes por dia, somente em Madri.
A Guerra Civil Espanhola foi o
desfecho inevitável da tentativa frustrada das Forças Armadas de impor
a ordem em uma sociedade revolvida pela subversão. Divididas, elas
mergulharam na crise fratricida, que se prolongou por três anos.
O Brasil de março de 1964
encaminhava-se para cenário semelhante, fomentado pela subversão de
grupos e pela propaganda revolucionária clamante de “reformas de base,
na lei ou na marra”.
No Nordeste, as Ligas Camponesas
flagelavam o campo. Nas grandes cidades, sindicatos e estudantes
promoviam greves e manifestações descontroladas. No Sul,
organizavam-se os grupos dos onze para os assassinatos seletivos de 1o
de maio.
A intervenção militar foi um
ato moderador de exceção, legitimado pelo consenso da maioria das
forças políticas. Comprova esse fato a calma social subsequente ao 31
de Março, em que não se conhece uma única vítima provocada por
reação popular.
Em contraste com a divisão dos
militares espanhóis em 1936, a união das Forças Armadas brasileiras,
em 1964, evitou a intervenção estrangeira e a guerra fratricida no
Brasil.
O movimento renovador de 1964
trouxe de volta os ideais tenentistas de modernização do País. O
espírito empreendedor que havia despertado no governo JK foi reativado,
deflagrando novo ciclo transformador da infraestrutura nacional, desta
vez sob a racionalidade do planejamento sistemático.
Ao adotar o planejamento
estratégico, o governo revolucionário implantou uma mentalidade
universalista na administração pública, combatendo as raízes de
personalismo, clientelismo e corporativismo inerentes à cultura rural
que ainda predominava no Brasil.
Equilibrou-se o balanço de
pagamentos. A credibilidade e a auto-estima nacionais foram recuperadas.
Completou-se a integração rodoviária da Amazônia. Consolidou-se a
industrialização. As taxas de crescimento mantiveram-se acima de 8%,
elevando a economia brasileira de 46a para 8a economia nacional.
A normalização política foi
conduzida em um clima de conciliação, que culminou com a anistia
consensual. Contudo, o instituto da anistia não alcançou a eficácia
do “Pacto del Olvido”, que encerrou o ciclo franquista na Espanha.
Infelizmente, a democratização
trouxe de volta os atavismos da corrupção, da incompetência e da
desarmonia. As paixões infladas pela ideologia fratricida têm
postergado a reconciliação nacional.
Nem mesmo a realidade da
“débâcle” soviética foi suficiente para convencer os espíritos
reacionários de que o socialismo real é inviável. Preferiram, então,
relativizar a teoria marxista com o sofisma de Antonio Gramsci,
substituindo a política de luta pela guerra psicológica, um artifício
que não deixa marca no corpo, mas destrói a alma.
O alvo principal da conspiração
gramscista é o direito de propriedade, cada vez mais relativizado por
servidões legais, sociais e ambientais. A devastação cultural que
essa ideologia vem promovendo já atinge as raízes da sociedade,
invalidando teses renomadas, como a de Sérgio Buarque de Holanda, que
afirmava ser o brasileiro o “homem cordial”, generoso e hospitaleiro,
assim contribuindo para o progresso da civilização.
É por isso que, em vão, tentam alterar a História, despojando a Revolução de 31 de Março de 1964.
A construção do socialismo por
artifícios antinaturais poderá produzir caos social, mas não terá
solidez para resistir ao choque da realidade. E já se observam sintomas
de exaustão desse ciclo sombrio. Quando soprarem os ventos da
mudança, ele haverá de ruir, e grande será a sua ruína.
O marco de 31 de março continua
flamejante. Irmanados, permanecemos os patriotas preparados para remover
a erva daninha da ideologia fratricida e semear os valores legítimos
de nacionalismo, liberdade, solidariedade, harmonia e progresso.
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