Por Ricardo Galuppo - Brasil Econômico -
O
Brasil, até onde se tem notícia, mantém um embaixador acreditado junto a
Havana. As relações com a Venezuela também estão normais. A pergunta,
portanto, é: qual a explicação para a presença em Cuba do assessor
especial da Presidência Marco Aurélio Garcia - que, segundo o próprio,
viajou no dia 31 de dezembro, por ordem da presidente Dilma Rousseff,
para buscar informações precisas sobre a saúde do presidente da
Venezuela, Hugo Chávez?
Para concluir, conforme informou Garcia, "que o
estado de saúde é grave e qualquer previsão é impossível de ser feita",
não precisava emissário especial.
Bastava pedir que um dos embaixadores levantasse a informação que, por sinal, é a mesma que se encontra no noticiário.
Internado
em Havana, onde foi operado de um câncer, Chávez deveria assumir hoje (10)
o seu terceiro mandato à frente do governo da Venezuela.
Se ele não comparecer à solenidade, novas eleições devem ser convocadas em 30 dias.
Mesmo
diante da gravidade do quadro, os partidários de Chávez e os políticos
que o apoiam na América Latina querem dar a ele mais tempo para se
recuperar ou, se isso não for possível, encontrar uma maneira de
empossar o vice, Nicolás Maduro, sem a necessidade de uma nova disputa
eleitoral.
E tentam justificar o golpe com um
argumento para lá de singelo: como Chávez já tomou posse antes, não
precisa cumprir todo o ritual agora.
Trata-se,
para dizer o mínimo, de uma interpretação absolutamente heterodoxa das
leis e do princípio da alternância de poder. Mesmo assim, Garcia diz que
o Brasil apoia a ideia de dar ao chefe venezuelano mais 180 dias para
melhorar.
É uma posição lamentável - dessas
que envergonham o país que a defende. A solução que a Venezuela dará à
sucessão presidencial, caso Chávez não resista à gravidade da doença, é
um problema da própria Venezuela.
O Brasil e os demais integrantes do Mercosul não têm motivos para se meter nas questões internas do país vizinho.
Ocorre,
porém, que o dever de coerência os obriga a se posicionar contra a
manobra e a cobrar respeito a uma Constituição que, como se sabe, foi
escrita para atender à conveniência do próprio Chávez.
Se as eleições não forem convocadas, eles se verão, no mínimo, obrigados a suspender a Venezuela como membro pleno do Mercosul.
Foi exatamente o que fizeram quando o Congresso do Paraguai votou o impeachment do então presidente Fernando Lugo.
Os simpatizantes de Chávez poderão dizer que uma situação nada tem a ver com a outra, e não tem mesmo.
O
impeachment de Lugo obedeceu a um rito que, por estranho que seja, está
previsto na Constituição local - enquanto a prorrogação do prazo para a
posse de um presidente que se encontra no exterior representa, em
qualquer lugar do mundo, vacância do poder.
E vacância do poder, como se sabe, se resolve com a convocação de novas eleições.
0 comments:
Postar um comentário