Jornalista Andrade Junior

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

O ditador na Cúpula

Que um Castro não eleito democraticamente se converta na principal ligação entre a União Européia e a América Latina, era algo material e moralmente inconcebível uma década atrás.

Raúl Castro presidindo um organismo regional integrado fundamentalmente por governos democráticos, é uma aberração que demonstra a falta de respeito que os governantes da América latina se têm a si mesmos.
A Cúpula em Santiago do Chile, da Comunidade de Estados Latino-Americanos e do Caribe, CELAC, na qual Castro assumirá a presidência pro-tempore da entidade regional, demonstra a falta de convicções democráticas dos mandatários latino-americanos. 
As credenciais democráticas de Raúl Castro são as mesmas de seu irmão Fidel, que só podia apresentar para legitimar seu mandato as que ostentavam Augusto Pinochet, Francisco Franco, Lenin ou Joseph Stalin, porque há que admitir, com constrangimento, que foram os povos da Itália e Alemanha os que elegeram Benito Mussolini e Adolph Hitler em seus primeiros mandatos.
Porém, se apenas a presença do ditador cubano já é um desafio aos mais elementares princípios democráticos, e que o Paraguai, país-membro da CELAC, não fosse convidado ao encontro porque o Senado depôs em um julgamento apegado à Constituição do país o presidente Fernando Lugo, um aliado incondicional do chavismo e dos países que estão associados ou relacionados com o Socialismo do Século XXI, confirma além de toda dúvida, que na América não há uma liderança democrática capaz de enfrentar o populismo sustentado nos petro-dólares do chavismo.
Cuba ocupa temporariamente a presidência da CELAC, não porque reúna os requisitos necessários para representar o hemisfério, senão porque uma jogada política dos gestores do projeto, os mandatários da Venezuela e Equador, Hugo Chávez e Rafael Correa respectivamente, o tornaram possível.
Correa e Chávez, as máximas representações do despotismo eleitoral no hemisfério, influenciaram na Cúpula de Caracas, em dezembro de 2011, para que Raúl Castro presidisse a organização depois de Sebastián Piñera, chefe de Estado do Chile, um presidente eleito em eleições plurais e livres, que substituiu a Costa Rica, onde também o governante é eleito livremente pelos cidadãos, nessas funções.
Uma jogada suja na qual participaram todos os governos do continente, procurando dar legitimidade moral à ditadura cubana.
É conhecido que o propósito da CELAC é deslocar a Organização dos Estados Americanos (OEA) porque, apesar da incapacidade do organismo regional para defender a democracia e a liberdade no continente, os líderes do Socialismo do Século XXI necessitam de uma entidade na qual não estejam os Estados Unidos e o Canadá, para exercer uma maior influência e controle.
É certo que os governantes do hemisfério foram historicamente complacentes com a ditadura cubana, porém, que um Castro não eleito democraticamente se converta na principal ligação entre a União Européia e a América Latina, era algo material e moralmente inconcebível uma década atrás.
Para alguns, o pragmatismo em política é quase obrigatório para conseguir resultados concretos, mas a fronteira com o oportunismo, a indiferença e a cumplicidade com crimes morais e materiais, é apenas perceptível, e estes últimos caracteres são o que se aprecia na maioria dos líderes políticos do hemisfério.
A frivolidade e o deixar passar caracterizaram os presidentes da América Latina, que por décadas fecharam os olhos ante o que acontece em Cuba, e até guardaram silêncio quando a ditadura da ilha lhes tentou desestabilizar.
Porém, a liderança que o regime de Raúl Castro assume por eleição dos governos da América também gera questionamentos e críticas no que diz respeito à União Européia, supostamente a instância governamental mais comprometida com a liberdade e o respeito aos direitos humanos.
Em certa medida o fato de que a União Européia aceite Cuba como representante temporária de 33 governos da América, resta aos questionamentos do Bloco ao governo da ilha o sustento moral necessário para continuar com uma política originada em 1966.
O continente enfrenta uma séria crise de valores que pode levar ao estabelecimento em todo o hemisfério de ditaduras eleitorais que, associadas entre si, conformem agrupamentos capazes de atuar em bloco contra aquelas instituições e países que não adiram a seus desejos. Exemplo do que pode ocorrer padeceu Honduras e vive o Paraguai. Entretanto, o golpe institucional que se produziu na Venezuela no passado dez de janeiro, quando Hugo Chávez não se juramentou como presidente, tal e como dispunha a Constituição, não causou impacto nas relações deste país com o resto do continente.
São os países que não se ajustam às regras da equipe que originalmente constituem Cuba e Venezuela e que foram se estendendo a outras nações, os que correm o risco de ser excomungados, se não cumprem as regras que impuseram os autocratas eleitos pelo voto popular.


Tradução: Graça Salgueiro
 

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