‘Inflação, estagnação e teimosia’, editorial do Estadão
PUBLICADO NO ESTADÃO
O Brasil completou mais um ano com inflação bem acima da meta e crescimento econômico pífio ─ desempenho muito pior que o da maior parte dos emergentes e até inferior ao de alguns países desenvolvidos ainda em crise. O principal padrão de referência da política oficial, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu 5,84% e poderia ter subido mais, sem a redução temporária do IPI sobre carros.
O indicador mais restrito, o INPC, referente aos gastos de famílias com ganho mensal de até cinco salários mínimos, aumentou 6,2%. Ruim para todos os trabalhadores, a evolução dos preços foi particularmente cruel, portanto, para os grupos de baixa renda. Mas o discurso-padrão do governo exclui o reconhecimento dos fracassos. O presidente do Banco Central (BC), Alexandre Tombini, festejou o resultado melhor (de fato, menos ruim) que o de 2011, quando o IPCA se elevou 6,5%, e garantiu para 2013 uma nova redução.
Não deixou, no entanto, de tentar uma explicação mal-ajambrada para os 5,84%. No segundo semestre, segundo ele, houve choques de preços agrícolas, “entre outros fatores”. Mas a perspectiva de um mercado agrícola mais acomodado havia sido, desde agosto de 2011, um de seus principais argumentos para justificar o corte dos juros. Mais do que nunca está claro: o corte de juros foi mais uma ação determinada pelo voluntarismo da presidente Dilma Rousseff.
Quanto aos preços dos alimentos, realmente impulsionaram a inflação, mas o fator mais importante foi o descompasso entre a demanda de consumo e a capacidade de oferta da economia. Houve aceleração de aumentos em seis dos nove grandes componentes do IPCA, em dezembro, e a variação do conjunto, no mês, foi a maior desde o fim de 2004.
Chegou a 70,7% a parcela de itens com aumento de preços, de acordo com o indicador de difusão calculado pelo banco Besi Brasil. Isso confirmou a tendência observada em todo o ano, de generalização dos aumentos pelo contágio. O crédito abundante, o aumento da massa de rendimentos, o gasto público e os incentivos mal dirigidos explicam esse fenômeno. Nenhuma faísca ─ no caso, a alta dos preços agrícolas ─ provoca um grande incêndio sem farto material combustível e sem oxigênio.
O fato mais grave é a combinação desastrosa de inflação alta e crescimento baixo. Desde 2005 a meta de inflação é de 4,5%, bem mais alta que a da maior parte dos países desenvolvidos e em desenvolvimento. A partir de 2006 a margem de tolerância diminuiu de 2,5 pontos porcentuais para 2, mas continuou muito ampla. Outros países cresceram muito mais com alta de preços muito menor.
No ano passado, até novembro, os preços ao consumidor subiram em média 1,9% nos 34 países da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), formada majoritariamente por economias desenvolvidas e algumas em desenvolvimento. No México, o IPC aumentou 4,2% nesse período, mas no terceiro trimestre seu Produto Interno Bruto (PIB) foi 3,3% maior que um ano antes – mais que o triplo do resultado brasileiro.
O contraste entre o Brasil e outros latino-americanos é notável. No Chile, a inflação até novembro ficou em 2,1%, com provável expansão econômica de 5,2% em todo o ano. Na Colômbia, o número final da inflação foi 2,44%, mas o PIB deve ter aumentado cerca de 4%. No Peru, o produto deve ter aumentado uns 6%, talvez pouco mais, mas os preços ao consumidor, até novembro, haviam subido 2,7%. No Equador, a alta de preços está estimada em 4,2%. Os números da produção não estão atualizados, mas o desempenho foi certamente muito melhor que o do Brasil. No segundo trimestre, o PIB foi 5,2% maior que o de um ano antes.
Na China, a inflação até novembro ficou em 2%, mas o produto, no terceiro trimestre, foi 7,4% maior que o de um ano antes. Índia e Rússia tiveram taxas inflacionárias mais altas que a brasileira, mas com expansão econômica bem maior.
No Brasil, tudo indica mais um ano com aumentos de preços além da meta, alimentados pelo crédito fácil e pela gastança pública, e sem nenhum benefício para o crescimento econômico.
O Brasil completou mais um ano com inflação bem acima da meta e crescimento econômico pífio ─ desempenho muito pior que o da maior parte dos emergentes e até inferior ao de alguns países desenvolvidos ainda em crise. O principal padrão de referência da política oficial, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu 5,84% e poderia ter subido mais, sem a redução temporária do IPI sobre carros.
O indicador mais restrito, o INPC, referente aos gastos de famílias com ganho mensal de até cinco salários mínimos, aumentou 6,2%. Ruim para todos os trabalhadores, a evolução dos preços foi particularmente cruel, portanto, para os grupos de baixa renda. Mas o discurso-padrão do governo exclui o reconhecimento dos fracassos. O presidente do Banco Central (BC), Alexandre Tombini, festejou o resultado melhor (de fato, menos ruim) que o de 2011, quando o IPCA se elevou 6,5%, e garantiu para 2013 uma nova redução.
Não deixou, no entanto, de tentar uma explicação mal-ajambrada para os 5,84%. No segundo semestre, segundo ele, houve choques de preços agrícolas, “entre outros fatores”. Mas a perspectiva de um mercado agrícola mais acomodado havia sido, desde agosto de 2011, um de seus principais argumentos para justificar o corte dos juros. Mais do que nunca está claro: o corte de juros foi mais uma ação determinada pelo voluntarismo da presidente Dilma Rousseff.
Quanto aos preços dos alimentos, realmente impulsionaram a inflação, mas o fator mais importante foi o descompasso entre a demanda de consumo e a capacidade de oferta da economia. Houve aceleração de aumentos em seis dos nove grandes componentes do IPCA, em dezembro, e a variação do conjunto, no mês, foi a maior desde o fim de 2004.
Chegou a 70,7% a parcela de itens com aumento de preços, de acordo com o indicador de difusão calculado pelo banco Besi Brasil. Isso confirmou a tendência observada em todo o ano, de generalização dos aumentos pelo contágio. O crédito abundante, o aumento da massa de rendimentos, o gasto público e os incentivos mal dirigidos explicam esse fenômeno. Nenhuma faísca ─ no caso, a alta dos preços agrícolas ─ provoca um grande incêndio sem farto material combustível e sem oxigênio.
O fato mais grave é a combinação desastrosa de inflação alta e crescimento baixo. Desde 2005 a meta de inflação é de 4,5%, bem mais alta que a da maior parte dos países desenvolvidos e em desenvolvimento. A partir de 2006 a margem de tolerância diminuiu de 2,5 pontos porcentuais para 2, mas continuou muito ampla. Outros países cresceram muito mais com alta de preços muito menor.
No ano passado, até novembro, os preços ao consumidor subiram em média 1,9% nos 34 países da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), formada majoritariamente por economias desenvolvidas e algumas em desenvolvimento. No México, o IPC aumentou 4,2% nesse período, mas no terceiro trimestre seu Produto Interno Bruto (PIB) foi 3,3% maior que um ano antes – mais que o triplo do resultado brasileiro.
O contraste entre o Brasil e outros latino-americanos é notável. No Chile, a inflação até novembro ficou em 2,1%, com provável expansão econômica de 5,2% em todo o ano. Na Colômbia, o número final da inflação foi 2,44%, mas o PIB deve ter aumentado cerca de 4%. No Peru, o produto deve ter aumentado uns 6%, talvez pouco mais, mas os preços ao consumidor, até novembro, haviam subido 2,7%. No Equador, a alta de preços está estimada em 4,2%. Os números da produção não estão atualizados, mas o desempenho foi certamente muito melhor que o do Brasil. No segundo trimestre, o PIB foi 5,2% maior que o de um ano antes.
Na China, a inflação até novembro ficou em 2%, mas o produto, no terceiro trimestre, foi 7,4% maior que o de um ano antes. Índia e Rússia tiveram taxas inflacionárias mais altas que a brasileira, mas com expansão econômica bem maior.
No Brasil, tudo indica mais um ano com aumentos de preços além da meta, alimentados pelo crédito fácil e pela gastança pública, e sem nenhum benefício para o crescimento econômico.
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