Jornalista Andrade Junior

domingo, 13 de janeiro de 2013

Tortura no governo democrático de Vargas

Empresário relata tortura na era Vargas à Comissão da Verdade 
Estadão.com.br 
Depoimento prestado pelo ex-integrante do PCB foi o primeiro referente a um período anterior ao regime militar
O engenheiro Boris Tabacof,  84 anos, ex-diretor do Grupo jSafra e atual presidente do Conselho de Administração da Suzano, se tornou a primeira pessoa a relatar á Comissão Na­cional da Verdade (CNV) tortu­ras cometidas por agentes do Estado brasileiro no período anterior à ditadura militar.
Texto completo
Preso por motivos políticos em 1952, durante o governo de­mocrático de Getúlio Vargas (1951-1954), Tabacof foi confi­nado em celas no Forte do Barbalho, em Salvador, na Bahia, e sofreu espancamento e priva­ção de sono sob ameaça de uma baioneta. No total, ele fi­cou preso por 400 dias.
Tabacof, então com 24 anos, era membro do Partido Comu­nista Brasileiro (PCB) e apoiava um grupo de militares naciona­listas e comunistas que atuavam dentro das Forças Armadas. Era secretário de organização do co­mitê estadual da Bahia do PCB, o segundo cargo do partido no Es­tado. Foi preso em 20 de outu­bro de 1952, dentro de um ôni­bus, e conduzido à prisão.
"Me obrigaram a tirar a roupa e a ficar nu durante vários dias e a única coisa que tinha nesse cubículo era um balde para as necessi­dades e esse balde não era retira­do. Então tinha que dormir no chão e, de vez em quandochega­va um soldado e jogava água", re­lembrou. Segundo Tabacof, as ce­las ficam em um pátio central no Forte do Barbalho, eram semi-subterrâneas e tinham "grades cobertas de tábuas para ninguém ver o que estava acontecendo".
Trauma. Ele levou mais de 60 anos para superar o trauma e tra­zer a história a público. Para is­so, contou com apoio da filha, a psicanalista Heidi Tabaco. "Eu nunca conversei com a família, nem com ninguém (sobre esses fatos). Claro que a gente vai ten­do essas marcas, que aí já é as­sunto da doutora Maria Rita (Kehl, psicanalista integrante da CNV), eu não sei explicar por que, contar essas histórias, até mesmo dentro da família, foi sempre muito difícil", afirmou.
O depoimento do empresário foi concedido em novembro do ano passado, no gabinete da Pre­sidência da República em São Paulo, aos juristas José Carlos Dias e Paulo Sérgio Pinheiro e à psicanalista à Maria Rita Kehl, membros da CNV. Seu conteú­do só foi divulgado ontem.
A lei que instituiu a CNV prevê a apuração de raves violações de direitos humanos ocorridas no país desde o início do primeiro go­verno Vargas, em 1946, até a pro­mulgação da Constituição Fede­ral em vigor, em 1988. A Comissão tem um grupo de trabalho especí­fico para apurar violações no pe­ríodo anterior à ditadura militar, coordenado pela advogada Rosa Maria Cardoso da Cunha.
Segundo afirmou à CVN, Taba­cof entrou no PCB com 17 anos, sob impacto dos crimes cometi­dos durante a 2a Guerra Mundial. Judeu e filho de imigrantes estava no primeiro ano de engenharia ci­vil, na Escola Politécnica da Ba­hia. Ele deixou o PCB em 1956, após a revelação dos crimes de Jo­sef Stalin na União Soviética. Após sair da prisão, Tabacof foi secretário da Fazenda do Esta­do da Bahia nas administrações dos Governadores Lomanto Jr. e Luiz Vianna Filho, entre 1965 e 1970. Também foi presidente do Banco do Estado de São Paulo (Banespa) entre 1988 e 1989.

0 comments:

Postar um comentário

Twitter Delicious Facebook Digg Stumbleupon Favorites More