Queria
que a OEA conhecesse formalmente, como costumam diplomatas e burocratas
destes organismos, o ocorrido na Venezuela desde 10 de janeiro, que
para qualquer estudante de primeiro ano de Direito deve-se entender como
um “golpe de Estado”.
Não tenho palavras para reconhecer as mensagens de apoio e solidariedade recebidas por minha atuação no Conselho Permanente da OEA, em 16 de janeiro, e que motivou a “desautorização” de meu governo pelo dito e, ato contínuo, minha destituição como Representante Permanente do Panamá ante a OEA.
Não
me resta mais que dizer, obrigado, Venezuela, porque foi ao povo desse
belo país a quem falei em 16 de janeiro. Embora me desautorizem e
posteriormente me despeçam, quando tomei o microfone no Conselho
Permanente era o representante do povo do Panamá, ali creditado como seu
embaixador, quem falava. Assim consta em suas atas e anais. A
desautorização, a destituição e a alegre reação do senhor Maduro,
simplesmente não existiram nesse dia histórico.
Com
toda propriedade, lhes asseguro que o povo panamenho entende quão mal
vai a pátria de Bolívar, solidarizando-se com os que lutam dentro e fora
dela pela liberdade e a democracia. Às vezes este apoio é aberto,
outras é sentido porém silencioso. Lembrem que nós vivemos episódios
similares aos que vocês vivem desde há 14 anos, quando por 21 anos os
militares e suas sanguessugas se alçaram com o poder. Isso explica a
solidariedade que também recebi de tantos no Panamá e no próprio núcleo
do Governo que me destituiu, para evitar as represálias seguras do
ilegítimo regime de Caracas.
O
objetivo a que me propus nesse dia não podia ser frustrado por ninguém.
Se naquela ocasião não me deixei amedrontar pelos gorilas panamenhos,
dificilmente ia ceder ante as vacilantes instruções dos que não
entenderam que para mim as ameaças de outro Governo só são efetivas na
medida em que se cede ante elas. Calar e/ou despedir um funcionário por
pressão externa, unicamente convida a maior pressão e menos prestígio
para o Panamá. Já tive oportunidade de conversar sobre tudo isto
pessoalmente com o presidente Martinelli, que publicamente me expressou
sua amizade e apreço e que em privado foi ainda mais longe.
Queria
que a OEA conhecesse formalmente, como costumam diplomatas e burocratas
destes organismos, o ocorrido na Venezuela desde 10 de janeiro, que
para qualquer estudante de primeiro ano de Direito deve-se entender como
um “golpe de Estado”. E assim ocorreu. Antes disto ouvia todo tipo de
argumentos para se fazerem de loucos; depois de minha intervenção ouvi
poucos, ou melhor: nenhum. Embora só me apoiaram em meu esforço o
Paraguai e o Canadá, em privado, outros mostraram solidariedade e,
inclusive, o mesmo pessoal da missão venezuelana, soube de comentários
de desagrado pela vulgar, evasiva e imprópria intervenção de seu
Embaixador.
Seguirei
ajudando-os no campo que disponha de agora em diante desde o Panamá.
Porém, não se esqueçam que a luta é e deve ser sua, e deve-se dá-la
coerentemente em nível internacional para que o pouco apoio político que
hoje recebem fora da Venezuela se incremente. Viva a Venezuela! Sempre
deve-se recordar que não há mal que dure cem anos nem corpo que o
resista.
Nota:
Terminando de escrever estas palavras de agradecimento a tantos venezuelanos, chega a minha atenção uma nota canalha escrita por outro venezuelano, José Vicente Rangel, escudado por trás de um de seus tantos pseudônimos: “Marciano”. Não tenho que explicar que não cobrei jamais para defender os ideais que me definem. Faço-o dia e noite. Pobre, acima de tudo, mendigo ante ninguém. Entendo que cada ladrão julga por sua condição, mas deveria lembrar o hoje suporte de um regime de militares medíocres, que ninguém pôs em dúvida as razões pelas quais ele naquela ocasião nos ajudou tanto a sair de nosso pesadelo autoritário.
Terminando de escrever estas palavras de agradecimento a tantos venezuelanos, chega a minha atenção uma nota canalha escrita por outro venezuelano, José Vicente Rangel, escudado por trás de um de seus tantos pseudônimos: “Marciano”. Não tenho que explicar que não cobrei jamais para defender os ideais que me definem. Faço-o dia e noite. Pobre, acima de tudo, mendigo ante ninguém. Entendo que cada ladrão julga por sua condição, mas deveria lembrar o hoje suporte de um regime de militares medíocres, que ninguém pôs em dúvida as razões pelas quais ele naquela ocasião nos ajudou tanto a sair de nosso pesadelo autoritário.
Tradução: Graça Salgueiro
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