DA SÉRIE DE CRONICAS FANTÁSTICAS QUE ENCONTREI EM MEUS ARQUIVOS. COMO JÁ DISSE INFELIZMENTE NÃO TENHO O AUTOR, MAS NÃO POSSO DEIXAR DE COMPARTILHAR COM OS AMIGOS.
Resolvia tudo na base do tiro. Metia a mão na cintura,
puxava o canhão e prometia fazer um estrago, por qualquer coisinha à toa que
fosse.
– Hoje, eu mato um! – jurou Lupércio, apontando para todos
os malandros que se encontravam no interior do bar da esquina da casa dele.
Ninguém se abalou. Toda vez que o valentão enchia a cara,
ameaçava fazer desgraça. Mas, durante os 24 anos que residia ali, na Boca da
Caçapa, o máximo que conseguiu fazer foi quebrar lâmpadas e vidraças com suas
balas perdidas. Ainda bem, para todos.
Lupércio entornou outra. Chamou todos para a briga:
– Só sei de uma coisa: o maldito está aqui dentro.
Ninguém deu nenhum pio. Silêncio total.
Lupércio insistiu:
– Não adianta fazer cara de sonso porque eu sei que o
maldito está aqui dentro. E hoje, eu vou acabar com a raça desse filho da...!
O dono do bar:
– Calma aí, Seu Lupércio, que temos senhoras no recinto.
O valentão mandou outra para dentro e deu uma porrada no
balcão:
– Calma é o cacete, Manéu! Se bobear, dou um teco no teu pé
também.
O português, cheio de medo, já pensando no prejuízo que
teria com o tiroteio:
– Ai, caramba...
Lupércio pediu um jiló ao vinagrete ao gajo:
– Manéu! Aquele cavernoso ali, por favor.
O português:
– Jiló? Jiló não, Seu Lupércio. Jiló não...
O valentão mandou o jiló. Deu dois pulos e caiu de joelhos,
ameaçando sentar o dedo em todo mundo:
– Aaarrrghhhh!!!
O português:
– Bebe um copo d’ água, Seu Lupércio.
– Água não, água não. Pitu com anis, por favor.
– Xiiiiii....
Os olhos do valentão pareciam duas brasas:
– Vocês! Qual de vocês aí é o maldito?
Silêncio.
O português, cheio das diplomacias com o raivoso:
– Mas que maldito é esse, Seu Lupércio?
O valentão bebeu outro gole. Estalou os beiços e mandou ver
na revelação:
– É aquele maldito, salafrário, que anda saindo por aí com a
minha mulher...
Todos:
– Ahhhhhhh!!!!
Lupércio:
– Que o maldito dê um passo à frente!
O português:
– Ai, caramba... – e, como ele, todos deram um passo à
frente, inclusive os sapatões que jogavam sinuca nas mesas próximas ao balcão.
Lupércio respirou fundo:
– Pois é...a sorte de vocês é que o meu revólver só tem meia
dúzia de balas.
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