Jornalista Andrade Junior

sábado, 26 de janeiro de 2013

Bicho solto dentro do bar

DA SÉRIE DE CRONICAS FANTÁSTICAS QUE ENCONTREI EM MEUS ARQUIVOS. COMO JÁ DISSE INFELIZMENTE NÃO TENHO O AUTOR, MAS NÃO POSSO DEIXAR DE COMPARTILHAR COM OS AMIGOS.


Resolvia tudo na base do tiro. Metia a mão na cintura, puxava o canhão e prometia fazer um estrago, por qualquer coisinha à toa que fosse.

– Hoje, eu mato um! – jurou Lupércio, apontando para todos os malandros que se encontravam no interior do bar da esquina da casa dele.

Ninguém se abalou. Toda vez que o valentão enchia a cara, ameaçava fazer desgraça. Mas, durante os 24 anos que residia ali, na Boca da Caçapa, o máximo que conseguiu fazer foi quebrar lâmpadas e vidraças com suas balas perdidas. Ainda bem, para todos.

Lupércio entornou outra. Chamou todos para a briga:

– Só sei de uma coisa: o maldito está aqui dentro.

Ninguém deu nenhum pio. Silêncio total.

Lupércio insistiu:

– Não adianta fazer cara de sonso porque eu sei que o maldito está aqui dentro. E hoje, eu vou acabar com a raça desse filho da...!

O dono do bar:

– Calma aí, Seu Lupércio, que temos senhoras no recinto.

O valentão mandou outra para dentro e deu uma porrada no balcão:

– Calma é o cacete, Manéu! Se bobear, dou um teco no teu pé também.

O português, cheio de medo, já pensando no prejuízo que teria com o tiroteio:

– Ai, caramba...

Lupércio pediu um jiló ao vinagrete ao gajo:

– Manéu! Aquele cavernoso ali, por favor.

O português:

– Jiló? Jiló não, Seu Lupércio. Jiló não...

O valentão mandou o jiló. Deu dois pulos e caiu de joelhos, ameaçando sentar o dedo em todo mundo:

– Aaarrrghhhh!!!

O português:

– Bebe um copo d’ água, Seu Lupércio.

– Água não, água não. Pitu com anis, por favor.

– Xiiiiii....

Os olhos do valentão pareciam duas brasas:

– Vocês! Qual de vocês aí é o maldito?

Silêncio.

O português, cheio das diplomacias com o raivoso:

– Mas que maldito é esse, Seu Lupércio?

O valentão bebeu outro gole. Estalou os beiços e mandou ver na revelação:

– É aquele maldito, salafrário, que anda saindo por aí com a minha mulher...

Todos:

– Ahhhhhhh!!!!

Lupércio:

– Que o maldito dê um passo à frente!

O português:

– Ai, caramba... – e, como ele, todos deram um passo à frente, inclusive os sapatões que jogavam sinuca nas mesas próximas ao balcão.

Lupércio respirou fundo:

– Pois é...a sorte de vocês é que o meu revólver só tem meia dúzia de balas.

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