Equilíbrio enviesado
Editorial Folha de SP
Folha de SP -
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Apesar de medidas positivas, falta ao governo Dilma visão integrada das questões, e economia é administrada na base do improviso
Até
a metade do ano, é bem provável que a inflação acumulada em 12 meses
supere o teto tolerado pelo regime brasileiro de metas inflacionárias
-6,5%.
No entanto instituições que costumam ser mais
precisas e ponderadas nas previsões de altas de preços ainda esperam que
o IPCA ao final de 2013 seja ligeiramente inferior ao de 2012, cerca de
5,8%.
Decerto tais resultados superam o
centro da meta, de 4,5%, raramente atingido. Além do mais, as
expectativas em relação aos preços ou se têm deteriorado ou se tornado
mais dispersas e incertas, entre outros motivos devido às intervenções
do governo, tais como controles disfarçados de preços.
O
governo dedica-se de modo agitado a evitar que a inflação estoure o
teto da meta e que, assim, se dissemine uma sensação de falta de
controle da política econômica. Pediu a governos estaduais e municipais
que adiem reajustes de tarifas de transportes públicos, antecipou a
redução dos preços da energia elétrica e tenta ainda produzir mágica que
atenue o impacto do reajuste da gasolina.
Embora
desconfortavelmente alta, a inflação não parece descontrolada. Há
controvérsias a respeito de como lidar de modo politicamente
transparente e tecnicamente responsável com esse nível de preços que
teima em subir. Porém o governo Dilma Rousseff recusa-se a elaborar
medidas de fôlego ou toma decisões que contrastam com a necessidade de
conter preços.
Por exemplo, acelera gastos e
incentiva empréstimos nos bancos públicos, que reavivam a inflação, mas
não necessariamente o crescimento econômico. O próprio Banco Central,
muito afinado com a presidente, acaba de declarar que a retomada
econômica não depende de mais consumo, mas de produção e investimento,
sobre o que mais nada pode fazer.
Em vez de
agir de modo planejado, Dilma administra a economia como quem pedala uma
bicicleta. Medidas extraordinárias, quando inevitavelmente se
desgastam, têm de ser substituídas por outras -novas pedaladas que
equilibrem de modo precário a bicicleta da política econômica.
Dilma
Rousseff politiza a gestão econômica em dois sentidos da palavra.
Submete o mercado a um excesso de decisões do governo e propagandeia seu
ativismo improvisado como atos de governo capaz e atento, como a
presidente gosta de alardear.
Apesar de
algumas iniciativas louváveis, como a redução de juros e de alguns
impostos e tarifas públicas, a marca da presidente não é o de um governo
de visão ampla e compreensão profunda dos problemas, mas a do improviso
recorrente, do malabarismo de medidas heterodoxas, do equilíbrio
politicamente enviesado da economia.
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