Com
uma advertência: como as mãos também podem matar, os cidadãos teriam
que aprender a usá-las também, de forma pacífica e politicamente
correta. Não dá pra proibir as mãos. Só cortando-as.
Milhares de cidadãos morrem todo ano no Brasil vítimas de facas, peixeiras, terçados, estiletes e outros tipos de armas brancas. Em particular, os utensílios de cozinha podem ser os maiores responsáveis. Acaso não há homicídios passionais causados por bebedeiras e desavenças de amantes? Ou acidentes na cozinha, por conta do uso das malvadas lâminas para cortar carnes ou manteigas? E o camponês que usa terçado para cortar cana ou capim? Acaso precisa deste instrumento danoso para realizar seus serviços de capinagem? Ele não poderia arrancar a mata com os próprios braços? E os seus braços? Não poderiam socar e matar alguém?
É curioso que ninguém se lembre desses grandes perigos que só fazem aumentar a violência em nossas ruas. Por causa dessa calamidade social, a nova campanha do desarmamento deveria obrigar a todos os brasileiros a comerem com as mãos. Assim, as facas sairão de fora do alcance dos assassinos e das crianças! Com uma advertência: como as mãos também podem matar, os cidadãos teriam que aprender a usá-las também, de forma pacífica e politicamente correta. Não dá pra proibir as mãos. Só cortando-as. Se algum engraçadinho fizer um “cotoco”, vai pra cadeia!
É claro que estou ironizando. Mas o mesmo se dá quando surge a propaganda histérica de proibição do porte de armas de fogo pela população. É como se as armas disparassem sozinhas. Ou que os cidadãos comuns fossem pessoas idiotizadas e cretinas, a ponto de merecerem tutela do Estado contra si mesmos. Na lógica do governo e dos desarmamentistas, o indivíduo comum não sabe usar armas ou não deve usá-las, pois é um criminoso em potencial. Precisa de intermediários e protetores, pois o Estado detém o monopólio de sua segurança. Os únicos a terem direitos especiais de autodefesa são os policiais e os bandidos. Em um sistema no qual a corrupção contamina o judiciário e a polícia, por vezes, a diferença entre uns e outros se perde. Quem definirá o que é polícia e o bandido? Ambos terão o privilégio de controlar os meios de defesa da sociedade.
Ocorre mais um massacre nos EUA, em Newtown, Connecticut. Mais um desajustado mata gente inocente numa escola americana. No Brasil, os ativistas (com o poderio do governo, da Rede Globo, da ONU e demais ONG’s esquerdistas) exploram a comoção de mais uma tragédia e batem na mesma tecla sofística: se há malucos matando por aí, a solução não é prevenir suas ações e puni-los. É desarmar as potenciais vítimas futuras. Eis a “indústria” desarmamentista em ação.
A BBC Brasil publicou um dado estatístico extraído da cartilha da própria ONU (a mesma que prega desarmamento civil pra todos). Com três vezes menos armas, o Brasil mata bem mais do que os EUA. Em suma, não existe relação entre número de armas e aumento de homicídios. Pode-se ir mais além: países como Suíça e Israel são muito bem armados. Suas comunidades portam armas tão pesadas quanto a dos traficantes da favela do Rio de Janeiro e os índices de assassinatos são baixíssimos. Alguém ousaria invadir a casa de um suíço ou de um rabino israelense? Duvido. Não se pode dizer o mesmo da casa da maioria dos brasileiros. Qualquer ladrão pode invadir, estuprar e matar à vontade, com a perfeita consciência da impunidade. E com a forcinha das ONG’s pacifistas e do Estado, que deixam a população à mercê da criminalidade. O Estado, no máximo, manda o camburão do IML para buscar o corpo. O fedor do cadáver incomoda...
Quem seria louco de pregar desarmamento em Israel? Logo o povo judeu, vítima de muitos algozes na história, entre os quais, a Alemanha Nazista, que pregou também o recolhimento de suas armas? Logo Israel, aquela ilha cercada de inimigos por todos os lados? Quem desarmaria a Suíça, cujo povo é o Exército? Desarme-se o povo e a nação inteira estará desamparada. Os ursos sábios da ONG Viva Rio seriam motivo de chacota nestes países.
Alguém objetará: armas matam! Sim, matam, como facas matam, canivetes matam, gargalhos de garrafas matam, socos e pontapés matam. Alguém também poderia argumentar sobre o poder mortífero das armas de fogo. Ou de sua finalidade única de matar. No entanto, as armas que mais matam são ilegais. Não estão nas mãos do cidadão comum, mas dos bandidos. Na verdade, é este cidadão comum que povoa as estatísticas de homicídios. Porque está desarmado. Porque sua segurança foi abandonada pelo Estado, que tolhe qualquer indivíduo dos meios de proteção de si mesmo e da sua família.
Se alguém questiona o poder destrutivo das armas de fogo, poderia, ao menos, refletir sobre este mesma força nas mãos específicas do Estado e dos bandidos. Alguns cidadãos ligados ao governo terão direitos particulares de proteção em detrimento de toda a comunidade. E outros, que estão na marginalidade e praticam o crime, terão passe livre para praticá-los sem a menor reação da sociedade. Os meios da legítima defesa são revogados.
O poder de um indivíduo armado pode ser perigoso. Depende do caráter e da capacidade de usar uma arma. Porém, o potencial de um Estado armado sobre uma população desarmada é bem mais destrutivo. Não há limites ou garantias para tanto poder.
O desarmamento da população não vai impedir as pessoas de assassinar ou serem assassinadas. Elas vão continuar sendo mortas pelos homens armados. Os assassinos encontrarão outros meios de matar. A política do desarmamento, na prática, apenas tira os meios de defesa das vítimas. Não me assustaria se paranóia desarmamentista chegasse à nossa mesa de jantar. Impotente para combater os crimes com facas, seríamos obrigados a comer com as mãos. Como as mãos também podem matar, só restaria ao Estado algemar a sociedade inteira. E os bandidos agradeceriam.
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